O estudo, de caráter didático, foi elaborado pelos docentes Lucivânio Jatobá e Alineaurea Florentino Silva
Uma pesquisa desenvolvida por docentes do Programa de Pós-Graduação Profissional em Rede Nacional para Ensino das Ciências Ambientais (ProfCiamb), do Centro de Biociências (CB) da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), traz uma ampla análise sobre as mudanças climáticas globais, integrando aspectos do passado geológico com os desafios contemporâneos. O estudo, de caráter didático, foi elaborado pelos docentes Lucivânio Jatobá e Alineaurea Florentino Silva e oferece contribuições relevantes para a compreensão das forçantes climáticas, com ênfase na Paleoclimatologia, e para a formulação de estratégias de mitigação e adaptação frente ao atual cenário de aquecimento global.
A pesquisa parte do princípio de que compreender o passado climático da Terra é essencial para interpretar os processos em curso e prever possíveis cenários futuros. Por meio da Paleoclimatologia — ciência que estuda os climas do passado a partir de registros sedimentares, formas de relevo, testemunhos glaciais, vestígios arqueológicos, entre outros — o estudo apresenta as intensas variações climáticas que marcaram o Quaternário, período que abrange os últimos 2,6 milhões de anos.
Durante o Quaternário, alternaram-se fases glaciais e interglaciais com consequências significativas sobre a vegetação, os solos, os oceanos e os regimes fluviais. A pesquisa explica que essas oscilações foram fortemente influenciadas pelos Ciclos de Milankovitch — variações na órbita e no eixo de inclinação da Terra que modificam a distribuição da radiação solar ao longo de milhares de anos. A última grande fase glacial encerrou-se há cerca de 11 mil anos, com a Transgressão Marinha Flandriana, que marcou o início do Holoceno — época caracterizada por relativa estabilidade climática, mas também pela intensificação da ação humana sobre o ambiente.
No território brasileiro, segundo o estudo, os efeitos das mudanças climáticas quaternárias se manifestaram de forma mais intensa no regime de chuvas e na umidade atmosférica. Nas fases de resfriamento, houve retração das florestas, avanço de vegetações mais secas como caatingas e cerrados, forte intemperismo mecânico e elaboração de superfícies aplainadas. Já nas fases de aquecimento, destacaram-se o predomínio de climas úmidos, expansão de florestas latifoliadas e intensificação dos processos químicos de intemperismo.
A pesquisa também destaca o papel dos oceanos, especialmente o Atlântico Sul, como reguladores térmicos fundamentais. Durante fases glaciais, suas águas estavam abaixo da média atual, impactando os sistemas atmosféricos e favorecendo a migração das faixas climáticas para o norte. Nas fases interglaciais, o aquecimento das águas oceânicas propiciava maior evaporação e instabilidade atmosférica, com chuvas mais intensas, sobretudo no Nordeste brasileiro. Esse comportamento evidencia o papel crucial dos oceanos na definição do clima regional.
Além disso, o estudo discute os impactos contemporâneos das mudanças climáticas induzidas pelo ser humano, sobretudo a partir da Revolução Industrial, com o aumento da emissão de gases de efeito estufa — como dióxido de carbono, metano e óxido nitroso. Embora o processo do efeito estufa seja fundamental para a manutenção da vida no planeta, sua amplificação, causada pela ação humana, tem causado alterações no balanço energético da Terra, desencadeando eventos extremos como ondas de calor, secas prolongadas, tempestades e perda de biodiversidade.
Oscilações climáticas de curto e médio prazo, como o El Niño-Oscilação Sul (Enos), a Oscilação Decadal do Pacífico e a Oscilação do Atlântico Norte, também são analisadas pelos autores. Essas interações oceano-atmosfera afetam diretamente a distribuição da umidade, a variabilidade da temperatura e a produção agrícola em diversas regiões do mundo, inclusive no Brasil.
O estudo ressalta ainda a importância dos sumidouros naturais de carbono, como florestas e oceanos, bem como dos solos e das massas de água no equilíbrio do ciclo do carbono. O vapor d’água, por sua vez, é tratado como um amplificador das mudanças climáticas, contribuindo para a formação de tempestades e intensificação dos eventos meteorológicos.
Na conclusão, os autores defendem que enfrentar os desafios das mudanças climáticas requer um esforço coletivo baseado em ciência, educação ambiental e políticas públicas eficazes. Entre as estratégias fundamentais, destacam-se a redução das emissões de gases de efeito estufa, a conservação de ecossistemas naturais, a transição para fontes de energia renovável e o fortalecimento de uma abordagem interdisciplinar que permita compreender as múltiplas dimensões do sistema climático.
Os resultados da pesquisa foram recentemente aceitos para publicação na Revista Ciência Geográfica, da Associação de Geógrafos Brasileiros – Seção Bauru-SP. O artigo, intitulado “Subsídios à discussão sobre o tema mudanças climáticas”, está disponível para acesso aqui.