Museu - Acervo e patrimônio UFPE Museu - Acervo e patrimônio UFPE

A Diretoria de Cultura da Proexc propõe a toda comunidade um passeio pelas obras que compõem o patrimônio artístico cultural. Nela serão apresentados trabalhos dos mais variados artistas de renome, tanto no cenário local quanto internacional.

 

Canto d’Atelier (Francisco Brennand) – 1953

A cidade do Recife possui marcas indeléveis provocadas pela arte de Francisco Brennand (1927-2019). Ceramista e escultor, o recifense ajudou a compor um luxuoso “museu público e a céu aberto” na geografia da capital, a exemplo das 90 peças dispostas no Parques das Esculturas. A UFPE, inclusive, faz parte desse roteiro artístico, com o mural em azulejo pintado “Juventude Estudiosa”, de 1970 (e revitalizado em 1996), que preenche de forma imponente a fachada da nossa Reitoria.

No entanto, para dar início à série QuarentenArte selecionamos a obra “Canto d’Atelier”, de 1953, um óleo sobre tela que expressa seu interesse pela natureza, tema bastante evocado nas suas pinturas, porém retratado aqui de forma menos fantasiosa e em linhas mais complexas. Chama atenção também os tons e sobretons mais escuros, que se contrapõem às cores vívidas de suas pinturas mais conhecidas. A peça faz parte da coleção do Centro Cultural Benfica da UFPE e perpetua a versatilidade desse mestre, cujo legado é resguardado pela Oficina Cerâmica Francisco Brennand, na Várzea, e pelo imaginário de Pernambuco, do Brasil e do mundo.


 

Estátua de Paulo Freire (Abelardo da Hora) – 2013

Abelardo Germano da Hora (1924-2014), pernambucano de São Lourenço da Mata, foi escultor, desenhista, gravador e professor. E a soma de todas essas frentes concebeu uma das figuras mais importantes na produção e na difusão da arte moderna em nosso Estado. Sua vocação para a articulação cultural mostrou seu potencial através da criação da Sociedade de Arte Moderna do Recife (SAMR), em 1948, e do Ateliê Coletivo, em 1952. Abelardo dirigiu essas duas importantes entidades para a consolidação da arte moderna em Pernambuco, além de ter atuado na linha de frente, junto com Paulo Freire e outros nomes importantes, na criação do Movimento de Cultura Popular (MCP). Compartilhava com o amigo Freire o amor pela educação e pela valorização da cultura.

Artista expressionista, Abelardo da Hora explorou, ao longo de sua produção, dois grandes temas: o amor e as questões sociais. O amor se expressa por sua devoção às mulheres, tema de diversas de suas esculturas; já as questões sociais se mostram, artisticamente, através da denúncia de injustiças, como a miséria e a fome. Além desses dois grandes eixos, Abelardo também contribui com estátuas de figuras públicas, como a do educador e amigo Paulo Freire, instalada no campus da UFPE durante o II Encontro Pedagógico Latino-Americano, em 2013. A inauguração da estátua foi no dia do nascimento de Freire, 19 de setembro, e contou com a presença do artista. O monumento fica na área do Lago do Cavouco, próximo ao Colégio de Aplicação e ao Centro de Educação.


 

Sem Título (Tereza Costa Rego) – 1983

A histo´ria da arte ocidental registrou o corpo feminino em diversos momentos, em sua maioria, no entanto, sob a o´tica masculina. A presenc¸a da mulher artista passou a ganhar mais notoriedade nos movimentos vanguardistas; e na arte produzida em Pernambuco na~o foi diferente. A recifense Tereza Costa Re^go (1929) e´ o nome feminino mais expressivo do modernismo local. Ela e´ conhecida principalmente por sua pintura, que costuma explorar as dimensões internas do ser humano, como a sexualidade, as memo´rias e o intimismo, traduzidos visualmente pelas figuras do corpo feminino e tons de vermelho e preto.

Tereza iniciou os estudos aos 15 anos de idade na Escola de Belas Artes de Pernambuco, precursora dos cursos de arte hoje em funcionamento no Centro de Artes e Comunicac¸a~o da UFPE. Desde enta~o, em momento algum, parou de produzir e experimentar. Prova disso e´ sua fase como litogravurista, durante o peri´odo que esteve ligada a` Oficina Guaianases de Gravura, entre 1983 e 1995. Dentre as obras produzidas por Tereza neste peri´odo, destacamos esta litogravura em cores. A imagem retrata uma figura feminina sob um guarda-chuva, tingida com o seu vermelho característico.

A obra se encontra hoje no Memorial Denis Bernardes da UFPE e integra o acervo de obras raras junto com as outras aproximadamente mil gravuras que compo~em o Acervo Guaianases, doado a` Universidade em 1995. Parte desse acervo esta´ digitalizado no link www.ufpe.br/guaianases. Nele e´ possi´vel conhecer outras obras de Tereza, como suas litogravuras em branco e preto.


 

Família de retirantes (Mestre Vitalino) – sem data

O escultor Vitalino Pereira dos Santos (1909-1963) cravou seu nome na história da arte brasileira sob a merecida alcunha de “mestre”. Nascido na zona rural de Caruaru, Vitalino começou ainda na infância a modelar pequenos animais com as sobras do barro que sua mãe utilizava para fazer utensílios domésticos e vender na Feira de Caruaru. A brincadeira foi, aos poucos, se tornando ofício. E quando se muda para o povoado do Alto do Moura, nos anos 1940, passa a atrair interessados que se tornaram discípulos do então jovem mestre.

À medida em que desenvolvia sua arte, Vitalino reconstruiu um imaginário do Nordeste em hábitos e costumes interioranos através de suas peças. Com uma visão expressionista, Vitalino abre mão da forma mimética para imprimir um traço autêntico e singular na representação das narrativas em sua volta. Seu trabalho ganhou visibilidade após participar com diversas obras na I Exposição de Cerâmica Pernambucana, realizada no Rio de Janeiro, em 1947.

Sua obra foi incorporando características técnicas diferente ao  longo do tempo. Usou no início apenas pigmentos naturais de barro para dar cor e depois incorporou tintas industriais em suas peças. A temática musical apareceu em suas esculturas, assim como muitas outras narrativas visuais da vida agrestina, a exemplo da Feira de Caruaru, hoje galeria de seu legado. No Alto do Moura, a casa em que viveu é, hoje, um museu dedicado à memória do Mestre.

Quatro anos depois de sua morte, a UFPE adquire as primeira obras de Vitalino para seu acervo. Conforme registro nos arquivos do Centro Cultural Benfica, datado de 19 de abril de 1967, na gestão de Hermilo Borba Filho como diretor do Departamento de Extensão Cultural, 22 peças do artista foram compradas dos colecionadores Roberto Rosa Borges e Achiles Leal Wanderley. As primeiras de uma coleção de arte popular em contínua expansão.


 

Eliseu Visconti

Considerado um dos artista precursores no estabelecimento das vanguardas modernistas na pintura brasileira, Eliseu d’Angelo Visconti (1866-1944) nasceu na Itália e migrou, ainda criança, para o nosso país. O Brasil se tornaria não somente a sua pátria, mas também, como costumava dizer, “a formadora do seu espírito”. Em 1882, Visconti começa seus estudos no Liceu de Artes e Ofício do Rio de Janeiro, tendo como professores Victor Meirelles, José Maria de Medeiros, Estevão Roberto da Silva, entre outros. Nesse meio, matricula-se na Imperial Academia de Belas Artes, em 1885. 

Em 1892, Visconti ganha bolsa de estudos da Escola Nacional de Belas Artes para a Europa, viajando no ano seguinte. Em Paris, frequenta a École Nationale et Spéciale Beaux-Artes (Escola Nacional e Especial de Belas Artes), Academia Julian e estuda também arte decorativa na École Guérin, onde entra em contato com a art nouveau. Eliseu Visconti alcançou uma linguagem plástica pessoal, harmonizando suas influências da arte acadêmica com as novas correntes do final do século XIX, em busca da modernização da arte no Brasil.


 

Laerte Baldini

Laerte Baldini é um artista cujos poucos registros e relatos a seu respeito não correspondem à importância do seu trabalho no cenário artístico. Foi pintor, gravador, muralista e professor. Mineiro, nasceu em Belo Horizonte, no ano de 1913. Aos 19 anos mudou-se para a Argentina e identificou-se profundamente com a vida local, a ponto de optar por naturalizar-se argentino. 

Estudou pintura, gravura e decoração na Escuela Superior de Bella Artes de la Nación, em Buenos Aires, obtendo o título de “professor superior de decoración mural”. Dentre os anos de 1945 e 1948 viajou pelo Paraguai, Bolívia e norte da Argentina, estudando e observando as paisagens e culturas locais. Tais estudos originaram numerosos trabalhos artísticos. Seus trabalhos foram expostos em diversas mostras na Argentina, Brasil e nos Estados Unidos, dentre os anos de 1933 a 1950. Chegou a lecionar na Academia de Bellas Artes de Chascomus. 

Foi no Recife, porém, que Eliseu viveu seus últimos anos. Os poucos registros do seu tempo na cidade dão conta da sua trajetória como professor e diretor da Faculdade de Artes da Universidade Federal de Pernambuco, com forte atuação nas disciplinas de gravura. Seu nome está registrado como professor nos currículos de diversos artistas nacionais, como Fernando Lúcio, Maria Salete Amaral de Oliveira, João Câmara e Maerlant Moreira Leal, dentre outros. No Recife, viveu sem contato com parentes, cercado e cuidado por seus ex-alunos. 

A obra escolhida se trata de uma pintura a óleo, intitulada “Mulher no Bosque”. A tela, datada do ano de 1963, curiosamente retrata duas mulheres caboclas, e não apenas uma, em meio às folhagens da mata. Visualmente, a pintura apresenta uma textura rústica que lembra o pastel. Belos tons de verde contrastam com o fundo escuro, e as duas figuras femininas são bem pequenas em relação às folhagens que as cercam. Esta alteração nos tamanhos naturais dos elementos pode ser observada em outras obras de Laerte, além do tema nativo sul-americano, marcante na sua produção. A obra integra o acervo da Reitoria da UFPE.






Aloísio Magalhães

A extensa titulação do recifense Aloísio Barbosa Magalhães (1927-1982) - pintor, gravador, cenógrafo, figurinista, mestre de bonecos, artista visual, artista gráfico e  designer - é proporcional à importância do seu nome na história da arte moderna brasileira. A data do seu nascimento, dia 05 de novembro, foi escolhida como o Dia Nacional do Design, em homenagem à grande contribuição do artista para formação do design gráfico brasileiro e a defesa do fortalecimento identitário cultural do País. 

Aloísio Magalhães ingressou na Faculdade de Direito do Recife em 1946, lá fundou junto com Hermilo Borba Filho, Ariano Suassuna, entre outros, o Teatro de Estudante de Pernambuco (TEP). Após formado, recebeu bolsa do governo francês para estudar museologia em Paris. Na volta ao Recife, torna-se integrante d’O Gráfico Amador, um ateliê experimental que mesclava literatura e artes gráficas. Anos depois ganha uma bolsa do governo americano para estudar artes gráficas nos Estados Unidos. Como fruto da vitória num concurso do Banco Central, em 1966, Aloísio desenvolveu desenhos para notas e moedas do Cruzeiro Novo. 

No início dos anos 1970, Aloísio Magalhães começa a desenvolver a série “Cartema” – nome dado por Antônio Houaiss para as composições feitas a partir de cartões-postais. Nesta série eram utilizados cartões-postais convencionais, colados numa superfície rígida de papelão, explorando o princípio do espelhamento com foco no ritmo visual. É o caso da obra em destaque, pertencente ao acervo do Centro Cultural Benfica, realizada a partir de imagem da cidade do Recife. 

Além de seu trabalho como artista e designer, teve diversos cargos políticos, entre eles Secretário de Cultura do Brasil e presidente do IPHAN. Em sua homenagem, em 1982, a Galeria Metropolitana de Arte do Recife altera seu nome para Galeria Metropolitana de Arte Aloísio Magalhães. Em 1997, se torna Museu de Arte Moderna Aloísio Magalhães (Mamam). 



Vicente do Rego Monteiro

Nascido no Recife e em uma família repleta de artistas, Vicente do Rego Monteiro (1899 - 1970) iniciou sua incursão pela formação artística aos nove anos de idade, quando começou a acompanhar sua irmã Fédora em seus estudos na Escola Nacional de Belas Artes, no Rio de Janeiro. Aos 12 anos, acompanhando sua família na França, intensifica seus estudos em diversas academias renomadas, que o formam um artista múltiplo: pintor, desenhista, muralista, ilustrador, artista gráfico, escultor e poeta. 

Em 1918, realiza a primeira individual, no Teatro Santa Isabel, no Recife, e dois anos mais tarde expõe pela primeira vez em São Paulo, onde entra em contato com artistas importantes como Di Cavalcanti, Anita Malfatti, Pedro Alexandrino  e Victor Brecheret. Além disso, obras suas foram expostas na histórica Semana de Arte Moderna de 1922. Como poeta, promoveu no Recife e em Paris diversos congressos de poesia, com a colaboração dos autores João Cabral de Melo Neto, Ariano Suassuna, Carlos Moreira e Edson Régis. Lecionou no Ginásio Pernambucano e na Escola de Belas Artes do Recife. 

Em 1930, depois de uma longa estada em Paris, trouxe a exposição da Escola de Paris ao Recife, ao Rio de Janeiro e a São Paulo. Mostra que inclui, entre outros, quadros de Pablo Picasso, Georges Braque, Joan Miró, Gino Severini, Fernand Léger e suas próprias obras. Trata-se da primeira mostra internacional de arte moderna realizada no Brasil, com artistas ligados às grandes vanguardas, como o cubismo e o surrealismo.
Sua produção é fortemente influenciada pela temática nativa brasileira, sobretudo a arte marajoara, e pelo universo da cultura popular, sempre adaptando esse imaginário à representação de figuras e formas geometricamente  construídas e estilizadas, com texturas que lembram o relevo da superfície das pedras ou da cerâmica. A obra em questão no Quarentenarte, que pertence ao acervo do Centro Cultural Benfica da UFPE, carrega referências dessas influências.  



Telles Júnior 

Jerônimo José Telles Júnior (1851 - 1914) foi um pintor, desenhista, político e professor recifense. No entanto, o artista não passou toda a sua vida no Recife. Por conta da profissão de seu pai, que era comandante de navios, a família mudava constantemente de endereço. Passagens pelos Rio Grande do Sul e pelo Rio de Janeiros foram marcantes na sua formação artística, onde teve aula com pintores e desenhistas. No Rio de Janeiro, também, ingressa como aprendiz no Arsenal da Marinha. Não por acaso, a temática do mar é bastante recorrente no seu trabalho.

Reconhecido pelos críticos como um atencioso intérprete da paisagem nordestina, suas obras refletem sua trajetória por cenários e paisagens diversas, dada as constantes viagens. O fator regionalista também é bastante evidente na sua produção, sobretudo nas paisagens do Recife retratadas. 

No ano de 1880, de volta ao Recife, Telles passa a lecionar pintura e desenho na Sociedade dos Artistas, Mecânicos e Liberais e, a partir daí, mergulha profundamente na arte, produzindo e participando de exposições. Em paralelo ao fazer artístico, seguia uma carreira na vida política, na qual lutava pela melhoria das condições de trabalho para a classe operária.

As suas marcas são as marinhas e as “paisagens de florestas”, tudo quase sempre com o mínimo vestígio elementos urbanos ou de seus tipos humanos. É o caso da tela “Paisagem com montanha”, óleo sobre cartão que integra a coleção do Centro Cultural Benfica da UFPE. 



 



Ariano Suassuna

Nome ímpar no cenário cultural brasileiro, Ariano Vilar Suassuna (1927-2014) foi romancista, dramaturgo, poeta e professor. Nasceu em João Pessoa, capital da Paraíba. Em 1942 a família muda-se para o Recife, onde Ariano termina seus estudos secundários. Mais tarde ingressa na Faculdade de Direito e entra em contato com um grupo de artistas e intelectuais - entre eles Hermilo Borba Filho, Aloísio Magalhães, Capiba e Gastão de Holanda - e, juntos, fundam o Teatro de Estudantes de Pernambuco (TEP). Posteriormente, Ariano integra o grupo O Gráfico Amador, que produzia livros manualmente, com tiragens artesanais e experimentais. 

 Em 1956, afasta-se da advocacia e torna-se professor de Estética da Universidade Federal de Pernambuco, onde se aposentaria em 1994. Ainda na UFPE, entre  1969 e 1974, Ariano Suassuna dirigiu o Departamento de Extensão Cultural, onde dá início ao Movimento Armorial. O movimento propõe o diálogo da arte erudita com os referências regionais e populares da cultura nordestina.

Em paralelo com essas atividades, manteve sua produção literária e escreveu várias obras, entre elas: “Uma mulher vestida de sol” (1947), “Auto da Compadecida” (1955), “O santo e a porca" (1957), "O casamento suspeitoso” (1957) e “Romance d’A Pedra do Reino” (1971). Seus trabalhos ganharam diversas montagens teatrais e adaptações para o cinema e para a TV. 

Ariano Suassuna ainda dedicou-se às artes plásticas como o desenho, pintura, gravura, cerâmica e tipografia. Sua estreia como artista plástico foi com os desenhos inseridos no “Romance d’A Pedra do Reino,” que remetem as xilogravuras das capas dos cordéis. Suassuna ilustrou muito de seus livros, o repertório imagético para as ilustrações armoriais vem das gravuras nordestinas, iluminuras medievais, a arte rupestre e a arte heráldica (arte de brasões). Alguns desses elementos estão impressos nesta litogravura que destacamos hoje, na qual Ariano recria a figura lendária do hipogrifo com traços do seu imaginário nordestino. A obra pertence à coleção do Centro Cultural Benfica. 




 

Paulo Bruscky

Paulo Roberto Barbosa Bruscky nasceu no Recife em 1949. Artista multimídia e poeta, é um dos pioneiros na arte conceitual no Brasil. Filho de pai fotógrafo e mãe vereadora, herdou do pai o gosto pela arte e da mãe os questionamentos políticos. O início de sua carreira coincide com o regime militar no País, período no qual foi preso diversas vezes, além de sofrer perseguições e ameaças por abordar temas de cunho social e político em seus trabalhos. Ele propõe uma arte antiburguesa, anticomercial e anti-sistêmica com função de denunciar, informar e protestar.  

Nesse sentido, o trabalho de Bruscky se materializou com técnicas e materiais variados: cartões, cartas, carimbos, fotografia, vídeo, xerox, fax, jornal e materiais descartados nas ruas. Foi também um dos precursores na utilização de novas mídias no Brasil, através de suportes como instalação, videoarte, áudio-arte, entre outros. Atuou no Movimento Internacional de Arte Postal, que ele denominou de Arte Correio, no qual os artistas usavam os Correios para veicular suas obras, driblando assim a censura e promovendo trabalhos fora dos circuitos oficiais de arte.

A prática de Paulo Bruscky se baseia numa poética de experimentação, sendo o processo mais importante do que o objeto artístico final. Dessa forma participou de diversas bienais, galerias e museus no Brasil e no exterior, em exposições contemporâneas.

A poesia visual também foi uma linguagem bastante explorada por Paulo Bruscky, combinando palavras e imagens como suportes poéticos. É o caso da litogravura que destacamos hoje, produzida durante passagem do artista pela Oficina Guaianases de Gravura. A obra pertence à Coleção Guaianases, que hoje é resguardada pelo Memorial Denis Bernardes da UFPE.


 




 

Bibiano Silva

Considerado um dos maiores escultores de Pernambuco e também um dos nomes centrais do ensino dessa linguagem, Antão Bibiano da Silva (1889-1969) nasceu no município Vitória de Santo Antão. O interesse pela expressão artística leva ao Recife, em 1906, para estudar no Liceu de Artes e Ofícios. Amplia suas técnicas com a formação na Escola Nacional de Belas Artes, no Rio de Janeiro, onde foi aluno do mestre Rodolfo Bernardelli, professor de escultura estatuária.

Na década de 1930, já de volta ao Recife, Bibiano Silva, junto com outros artistas e intelectuais - como Baltazar da Câmara, Mário Nunes, Murillo La Greca, Joel Galvão, Henrique Eliot, Euclides Fonseca, Heitor Maia Filho, Heinrich Moser e Fédora do Rêgo Monteiro -, fundou a Escola de Belas Artes de Pernambuco (EBAP), cujo objetivo era desenvolver o ensino das Belas Artes e suas aplicações. Bibiano se tornaria o primeiro diretor da Escola.

O artista montou seu ateliê junto a uma marmoaria, onde produzia trabalhos em larga escala para mausoléus e túmulos. Durante sua carreira, produziu esculturas em diversos materiais, como bronze, ferro, cimento e pedra. Sua produção atendia demandas para todo Brasil. A maior parte das suas obras em mausoléus está no Cemitério de Santo Amaro, no Recife.

A assinatura de Bibiano se tornou famosa também pela criação de bustos de personalidades. Dentre as diversas esculturas do artista mapeadas no Recife estão os bustos do jurista e filósofo Tobias Barreto (1925), localizado na Faculdade de Direito de Pernambuco, e do reitor João Alfredo, na reitoria da Universidade Federal de Pernambuco. Essas duas obras pertencem ao patrimônio cultural da UFPE. 





 

Miguel dos Santos

O trabalho de Miguel dos Santos ocupa um lugar de prestígio entre os artistas que se fizeram notáveis pela expressão do Movimento Armorial. Nascido em Pernambuco, na cidade de Caruaru, em 1944, reside hoje em João Pessoa, na Paraíba, onde possui ateliê. Miguel é ceramista, escultor e pintor, com formação artística autodidata, tendo a temática cordelista e referências regionais e nordestinas presentes em suas obras desde os anos 1950.

Além da arte popular brasileira de Vitalino, que apreciava nas feiras de Caruaru ainda criança,  outras duas fontes de inspiração formam a base de sua poética: a arte erudita de Aleijadinho e a presença dos arquétipos e imagens ancestrais da cultura africana. Produtor de inúmeras esculturas em mármore e cerâmica, seu acervo é composto por uma variedade de peças que vão desde pratos, máscaras, seres mitológicos e arquetípicos, até totens.

A UFPE possui em seu patrimônio um exemplar do trabalho de Miguel dos Santos, na expressão da pintura. A obra se encontra no acervo do Centro Cultural Benfica e é um trabalho característico da estética armorial. Intitulado “Mulher com figuras mitológicas”, o quadro apresenta uma composição geometricamente harmoniosa. No centro, vemos a mulher. Sobre sua cabeça, uma das figuras antropomórficas, em forma de arco. Este misterioso ser parece ter um corpo de mamífero com garras, talvez de um felino. A obra traz, portanto, as marcas de um realismo mágico, enamorado pelos mitos nordestinos, explorando as figuras de animais míticos ou fantásticos.


 



Gil Vicente

Reconhecido pelo caráter crítico e polêmico dos seus trabalhos, o recifense Gil Vicente Vasconcelos de Oliveira (1958) é um dos principais nomes do cenário artístico da arte contemporânea brasileira. Pintor, desenhista, gravador, fotógrafo e escultor, esse artista polivalente iniciou seus estudos artísticos aos 12 anos, na Escolinha de Arte do Recife, onde pode entrar em contato com técnicas tradicionais. Ainda na adolescência, passou a frequentar os ateliês livres da UFPE para praticar desenho e pintura de observação, além de trabalhar técnicas de gravura em metal e lito. O primeiro reconhecimento, através de prêmios de salões de arte, viria aos 17 anos. Aos 20, Gil Vicente já realizaria sua primeira mostra individual.

A trajetória artística de Gil Vicente, pontuada ainda pela passagem pela França, quando recebeu uma bolsa de estudos na Escola de Belas Artes de Paris, construiu para si uma poética questionadora e politizada. Sua série “Inimigos”, na qual se retrata como algoz de líderes políticos e celebridades, chegou a ser censurada. Gil comenta esse episódio apontando o fato de que outra série sua, intitulada “Suite Safada”, exposta simultaneamente com “Inimigos”, não tenha despertado tanto espanto, apesar de seu conteúdo pornográfico/erótico.

O artista trabalha principalmente a partir das técnicas tradicionais da pintura e do desenho. Seu suporte mais frequente é o papel, que para ele, também representa uma forma de se aproximar do público, visto que o papel é um material conhecido e manuseado frequentemente por todos. 

Gil Vicente participou também da Oficina Guaianases de Gravura, onde conviveu com artistas mais experientes e produziu litografias. Uma delas é a que apresentamos hoje. Intitulada “Casal”, esta gravura de 1986 apresenta um desenho despojado, despreocupado em relação aos cânones clássicos. Um desenho gestual e espontâneo. Junto às outras obras da Coleção Guaianases, esta gravura se encontra no Memorial Denis Bernardes, localizado na Biblioteca Central da UFPE, que também pode ser visto online através do site www.ufpe.br/guaianases.