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Nova espécie de verme marinho é descoberta no litoral sul de Pernambuco

O Caulleryaspis chicosciencei foi encontrado, no estuário de Suape, por dois pesquisadores da UFPE após pesquisa de monitoramento

Por Raul Holanda

Dois pesquisadores do Departamento de Oceanografia do Centro de Tecnologia e Geociências (CTG) da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) documentaram a descoberta de um verme marinho, cujo gênero é inédito no país, em um ambiente lamoso da costa sul pernambucana. Nykon Jefferson de Albuquerque Craveiro, mestre em Oceanografia pela UFPE, e José Souto Rosa Filho, professor do curso, publicaram o estudo “Caulleryaspis chicosciencei: a new species from Brazil (Annelida, Sternaspidae)” no renomado periódico Journal of the Marine Biological Association of United Kingdom, no dia 12 deste mês.

A descoberta do Caulleryaspis chicosciencei, o novo verme marinho, batizado em homenagem ao cantor pernambucano Chico Science, foi possível após coleta de amostras no estuário de Suape, no município do Cabo de Santo Agostinho, na Região Metropolitana do Recife. O monitoramento, que continua, vem sendo feito desde 2018, sendo a espécie encontrada pela primeira vez em 2019. Os pesquisadores utilizaram um equipamento denominado “Pegador de fundo”, próprio para coletar amostras de sedimento de fundo, e direcionaram o material, retirado a uma profundidade de 7 a 16 metros, para análise em laboratório, onde constataram a nova espécie.

A distinção do novo grupo em relação às demais espécies da região é possível devido a algumas características biológicas, como tamanho consideravelmente menor, com cerca de 4 milímetros, papilas (pequenas saliências) cirriformes distribuídas em grande quantidade por todo o corpo e número e formato de cerdas. “Essa espécie é diferente das outras porque ela tem uma série de características, como tipo de cerdas e presença de algumas manchas”, comentou o professor José Souto, um dos pesquisadores. Ele disse, ainda, que a maior das diferenças consiste no fato de que a nova espécie é pertencente a um gênero – o Caulleryaspis – que jamais havia sido descrito no Brasil.

A instalação de uma equipe de trabalho de monitoramento dos impactos ambientais trazidos pelo Porto de Suape no ecossistema da região foi o principal impulsionador para a descoberta. Em uma das movimentações para viabilizar novos estudos sobre esses efeitos, a equipe acabou reconhecendo o novo verme marinho. “A nova espécie não pode ser considerada maléfica nem benéfica, é apenas mais uma espécie. A importância dela é que, mesmo sendo só mais uma, é uma espécie que a gente não conhecia. E como o nosso ambiente costeiro é muito ameaçado, é importante que a gente saiba quantas e quais são as espécies presentes”, explicou o professor.

Embora a espécie não traga retorno econômico direto, José Souto apontou ganhos para o meio ambiente. “A descoberta atinge diversos setores da sociedade e é de grande interesse público por contribuir com o conhecimento geral da biodiversidade da região e ser fonte de riqueza para compostos químicos que auxiliam na produção de alimentos e fármacos”, disse.

HOMENAGEM – A recém-descoberta espécie foi batizada de Caulleryaspis chicosciencei para homenagear o cantor pernambucano Chico Science, um dos idealizadores do movimento cultural Manguebeat e falecido há 25 anos. “A ideia de homenagear Chico Science veio porque ele foi um grande músico pernambucano, que mudou a cena musical do estado. As músicas tiveram um impacto nacional. Além disso, tinham uma pegada política muito forte e, no momento político que a gente vive no Brasil, foi importante que a gente homenageasse um músico que não só cantava, mas que também dizia coisas importantes para a população”, completou o docente. O cantor tinha forte ligação com o mangue e cenários de lama da capital pernambucana, o que dá ainda mais base para os pesquisadores prestarem homenagem póstuma ao artista.

Mais informações
Professor José Souto Rosa Filho

souto.rosa@ufpe.br

Data da última modificação: 28/09/2022, 11:33