Departamento de Ciências Contábeis e Atuariais

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Salões de beleza precisam de qualificação profissional para manter atividades no Brasil

Há um crescimento de locais que encerram os serviços precocemente por falhas na administração financeira, aponta estudo de docente do CCSA

A professora Ana Fontes Vasconcelos, do Departamento de Ciências Contábeis e Atuariais (DCCA) do Centro de Ciências Sociais e Aplicadas (CCSA) da UFPE, afirma que há necessidade de qualificação profissional para que os gestores de salões de beleza no Brasil consigam manter suas atividades em funcionamento. Ela diz que, por falta de gestão adequada e falhas na administração financeira, há um crescimento de lugares que fecham as portas pouco tempo depois da abertura dos serviços.

“Apesar do grande número de empresas e empreendedores nesse setor, há um risco considerável de encerramento de atividades antes de completarem dois anos. Muitas dessas empresas operam informalmente, enfrentando desafios decorrentes da intensa concorrência, carência de conhecimento em gestão administrativa, financeira e legal, bem como outras dificuldades”, reflete a professora da UFPE, no ensaio “Salão de Beleza: Cenário Não Tão Belo Assim!”, publicado na revista Práticas em Contabilidade e Gestão e com coautoria da pesquisadora Erika Ferreira.

De acordo com as pesquisadoras, a chamada “Indústria da Beleza” tem papel importante na economia brasileira e há uma cadeia produtiva significativa no país. Para elas, quando se compreende e analisa dificuldades de empreendedores atuarem na área, percebe-se que existem possibilidades para tornar os negócios mais rentáveis e sustentáveis.

“Isso requer a disseminação do conhecimento, a promoção de práticas simples e o entendimento da legislação. O encerramento prematuro de negócios nessa área acarreta uma série de impactos no mercado, incluindo a redução da arrecadação de impostos, aumento do desemprego, término de contratos de aluguel e afeta o fornecimento de produtos relacionados à indústria da beleza, bem como outras cadeias de valor associadas a esse setor”, alegam Erika e Ana, no texto do ensaio.

Segundo a professora da UFPE, o perfil desses empreendedores é composto, em sua maioria, por mulheres que perderam o emprego e possuem aptidão - já fizeram cursos técnicos ou têm experiência de vida - para trabalharem com estética e beleza. Elas, explica Ana Vasconcelos, abrem o negócio próprio, muitas vezes, dentro das próprias residências para diminuírem os custos de aluguel, mas enfrentam problemas de gestão.

“Quando vamos fazer os procedimentos de qualificação e a gente sabe, por exemplo, que as mulheres precisam de horários diferenciados, porque têm o segundo e o terceiro turno com os cuidados domésticos. Ela é dona de casa, ela é mãe, ela é esposa. Então, a gente precisa dar uma olhada de forma pedagógica nessa questão. O que nos chama atenção é o perfil de escolaridade. A maioria delas terminou o Ensino Médio, mas não cursaram faculdade”, conta.

Para qualificar profissionais da área, as pesquisadoras acreditam que seja “necessário estudar e colocar em prática controles gerenciais que auxiliem a uma visão completa da entidade”. Por exemplo, devem ser utilizadas ferramentas e práticas simplificadas, além de observar as particularidades dos lugares e adequar-se ao cotidiano das rotinas existentes neles.

“É necessário que os empreendedores conheçam o cenário em que estão inseridos. Esse conhecimento não diz respeito apenas às técnicas profissionais e, sim, aos assuntos administrativos, financeiros, tributários, trabalhistas e de normatização legal. Essas habilidades e conhecimentos, além de todo o preparo profissional, podem fazer desse estabelecimento um diferencial entre os demais e mantê-los ativos por muitos anos”, reforçam as pesquisadoras.

“INDÚSTRIA DA BELEZA” NO BRASIL – De acordo com dados sobre registros profissionais, existe um aumento na formalização e, consideram as pesquisas, um excesso de profissionais que atuam na chamada “Indústria da Beleza” no Brasil. No Portal do Empreendedor, em 2023, constam mais de um milhão de registros, na Classificação Nacional de Atividades Econômicas (CNAE), das atividades de cabeleireiros, manicure e pedicure, e quase 350 mil relacionados às atividades de estética e outros serviços de cuidados com a beleza formalizados como Micro Empreendedor Individual (MEI).

Vinculada ao setor de serviços, as atividades da “Indústria da Beleza”, em 2020, geravam 68% dos empregos e representavam 63% para o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil, segundo estudos realizados pelo Instituto Brasileiro de Economia (IBRE) e da Fundação Getúlio Vargas (FGV). O “Atlas dos Pequenos Negócios”, disponibilizado em 2022 pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), revela que “os pequenos negócios são uma das principais forças da economia brasileira”. Em um ano, os MEIs injetaram R$ 140 bilhões na economia, enquanto as Micro e as Pequenas Empresas (MPEs) movimentaram R$ 280 bilhões.

A Euromonitor International realizou um estudo, em 2018, sobre a “Indústria da Beleza” e identificou que há quase 500 mil salões formais no Brasil. As análises mostram que, se forem considerados os salões informais, o número de empreendimentos subiria para 1 milhão. Dados do Mapa de Empresas do Governo Digital revelam que 99% das empresas ativas nesse setor, no ano de 2022, eram microempresas (MEs). As atividades de cabeleireiro, como microempreendedores individuais (MEIs), estavam entre as dez atividades econômicas mais requisitadas em 2021, pelos dados do Sebrae.

Além disso, a Euromonitor International revelou que, em 2018, o Brasil era o quarto maior mercado da “Indústria da Beleza” no mundo. O país ficava atrás de Estados Unidos, China e Japão.

UFPE NA “INDÚSTRIA DA BELEZA” – A professora Ana Fontes Vasconcelos ressalta que a UFPE tem desenvolvido pesquisas para auxiliar pequenas empresas na consolidação de serviços, principalmente “atender microempreendedores que nascem com uma perspectiva de negócio próprio”. Para ela, são pessoas que buscam ter uma renda própria e sustentar a família.

“É um setor de microempresas, não tem muito capital de giro e precisa de ajuda para gestão de seus negócios. Cumprir com as obrigações tributárias, fiscais e dar sustentabilidade aos empreendimentos são perspectivas de gestão. O setor da beleza é um segmento econômico muito forte no país. Ajuda até o PIB com muita relevância. Temos a questão da legislação e do Salão Parceiro para serem olhadas, não infringirem essas regras de gestão”, adverte.

Ana Vasconcelos afirma que, no Departamento de Ciências Contábeis e Atuariais, os pesquisadores realizam levantamentos de estudos anteriores, que discutem a relevância do tema da beleza, de gestão e sustentabilidade desses negócios. A introdução do tema na UFPE, segundo ela, reforça a importância de estimular atividades de gestão – contábil, fiscal, tributária e gerencial.

“Vislumbramos a carência ligada a riscos, onde o gestor precisa ser preditivo, ter consciência do risco. Vamos disponibilizar uma ferramenta, em parceria com a Receita Federal, onde os gestores poderão utilizá-la de forma gratuita e medir os riscos de seus negócios. Também disponibilizamos nossos serviços de informação, nos cursos de Ciências Contábeis e Atuariais EAD (Ensino a Distância)”, diz a professora da UFPE.

Ana conta que a parceria com a Receita Federal estimula o processo de inclusão dos Núcleos de Apoio Financeiros (NAFs) na UFPE e projetos de extensão para “possibilitar melhorias na gestão dos negócios e trazer pessoas microempreendedoras para qualificar dentro da universidade”. De acordo com a professora, estudantes da UFPE, nos trabalhos de conclusão de cursos (TCCs), já aplicam a ferramenta de análise de riscos onde moram.

“Eles levantam dados de gestão de riscos em suas localidades e, através deles, chegamos aos municípios pernambucanos”, conclui a docente.

Mais informações
Professora Ana Vasconcelos - CCSA

ana.svasconcelos@ufpe.br
anafontes_ufpe@yahoo.com.br

Data da última modificação: 08/02/2024, 15:10

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