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Critica - A Fita Branca

A relação, de forma inicial, pode soar incomum, mas a câmera flutuante de A Morte do Demônio [The Evil Dead, 1981, dir. Sam Raimi] e A Fita Branca [Das Weisse Band, 2009, dir. Michael Haneke] se encontram nessa relação do mal como algo que se infiltra no interior de casa e contamina a todos ao redor. Observemos, por exemplo, como a primeira vítima do filme de Sam Raimi se posiciona na janela e sente essa sensação impalpável tomar conta de seu corpo. Em uma cena, ainda no início do filme do Michael Haneke, o plano parte de alguns homens tentando entender o que havia acontecido ao Médico que caiu do cavalo após o animal tropeçar em um fio. Obviamente, tal ação foi mal-intencionada. Logo, a câmera revela que uma criança assiste a tudo pela janela, com o rosto envolto pelo impacto do acontecimento. 

 

Sua mãe, no que lhe concerne, toca piano e pede para que o garoto se afaste dali, que ele vá dormir ou sentar-se ao lado dela para tocar as notas do instrumento. Ela, posteriormente verbaliza, mas naquele momento é notável que a atitude desta mulher é de preservação da infância. Tal preocupação se mostra assertiva com o desenrolar narrativo, onde o mal espreita pelas frestas das janelas, pelos cantos da imagem. Cada plano do longa está impregnado de uma ameaça que não abre margem para a cor do mundo. Haneke ilustra uma comunidade onde a rigidez, a violência e a vildade são geradas no interior das casas, no olhar entre pais e filhos. Uma das cenas em que tal atitude é encapsulada de forma brilhante é na punição do pastor ao filho após descobrir que este último masturba-se. 

 

O plano mostra o garoto olhando para o pai, envergonhado, enquanto em seu braço uma fita branca tenta indicá-lo o caminho da inocência. No fundo da imagem, uma cruz desenha o aspecto religioso daquele ambiente. A rigidez comportamental encontra-se com a imagética: tudo o que precisa ser dito sobre gênese e apocalipse estão no campo e no antecampo. A violência já invadiu os lares pelas festas, pelas conversas escondidas, pelos olhares dissimulados e falsamente ingênuos. Mesmo sem exibir qualquer gesto brutal diante da câmera, A Fita Branca carrega consigo a força daquilo que apenas insinuado já é devastador. E talvez, por isso seja tão forte e marcante.

 

Critica por Montez Oliveira da Revista Nostalgia estudante do 4º período de Cinema e Audiovisual

 

 
Data da última modificação: 15/06/2023, 09:59