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Precarização do trabalho no mundo contemporâneo é revestida de múltiplas formas
O que antes era uma situação atípica, hoje atinge mais de 80% dos empregos do mundo
Por Raiza da Mata
Com base nos elementos explicativos sobre a origem e o impulsionamento da precarização da força de trabalho debatidos na crítica da economia política desenvolvida pelo teórico alemão Karl Marx, o doutor pelo Programa de Pós-Graduação em Serviço Social da UFPE Albani Barros constata que a dinâmica da precarização do trabalho tem uma lógica diretamente orientada por uma multiplicidade de formas e de tendências fenomênicas em constante agitação, dirigidas no sentido de intensificar a apropriação de sobretrabalho. “Essa condição de trabalho, que antes era tratada pelos autores europeus como atípica, fora do padrão normal, hoje atinge mais de 80% dos empregos do mundo, deixando de ser atípica, passando a ser, na verdade, o padrão que se apresenta como tendência”, explica o autor.
Na tese “Prekärer - análise dos fundamentos da precarização do trabalho a partir da crítica da economia política uma análise sobre o atual fenômeno da precarização do trabalho”, Barros também aponta que, além das características que historicamente acompanharam a precarização do trabalho, novos elementos foram adicionados, como a precariedade subjetiva, o zero-hours contract [contrato “zero hora”], o job sharing [trabalho compartilhado] e a precarização invisível do trabalho, entre outros diversos exemplos. Segundo Barros, toda a análise da pesquisa é acompanhada com rigor pela teoria marxista do valor trabalho e sustentada com base no conceito de superpopulação relativa, descrito no livro “O capital de Marx”, no capítulo XXIII do primeiro volume.
Para o pesquisador, a depreciação nas condições e relações de trabalho “baseia-se agora num movimento fluido ao extremo, em que a regra a ser perseguida é desfazer qualquer regra, devastar toda possibilidade de amarras”. Albani Barros entende que, devido à superpopulação relativa gigantesca mundialmente, ou seja, uma massa de trabalhadores desempregados ou em subempregos existentes em escala global, o processo de precarização tem suas bases propulsoras postas em movimento por meio de diferentes fenômenos. “Com uma massa mundial de trabalhadores sobrantes, criam-se as condições para que todo tipo arranjo contratual se multiplique, que a todo instante sejam gerados novos formatos de compra e consumo de força de trabalho”, resume.
No estudo, que foi realizado fundamentalmente por meio de uma ampla revisão bibliográfica e com a análise de dados obtidos de fontes oficiais como a Organização das Nações Unidas (ONU), a Organização Internacional do Trabalho (OIT) e o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o autor defende que a diversidade de formas (de precarização) revela como síntese a existência de um cipoal de múltiplos fenômenos, muitos operando de forma simultânea e articulada, com dispositivos prontos para o acolhimento de novos formatos. “No fundo do fosso da precarização, há sempre um alçapão, até então desconhecido, com alguns arranjos novos, prontos para ser usados contra o trabalhador”, afirma o pesquisador.
DESEMPREGO | A pesquisa, orientado pela professora Juliane Feix Peruzzo, ainda aponta que a precarização expressa hoje essa tendência de permanente mutação, sendo-lhe acrescidas novas faces a todo instante, todas erguidas sobre uma coluna: o trabalho assalariado. “Mas, se as formas como a precarização do trabalho se apresentam são múltiplas, o desemprego foi sempre seu útil companheiro; é esse quem mais a alimenta. As dificuldades de encontrar um emprego tornam-se um pesado desafio aos trabalhadores”, discorre Barros.
Para o autor, o aprofundamento das contradições do capital, acentuado em sua fase de crise estrutural, trouxe a generalização da precarização num momento histórico marcado pelo influxo do movimento sindical e por uma frágil organização política dos trabalhadores. E, complementa: “Essa situação passou a interferir de forma crescente em amplos setores do trabalho em todo o mundo, introduzindo um estado de tensão nos sujeitos, que veem seus direitos trabalhistas e sociais perdidos e enfrentam, ao mesmo tempo, a crua realidade de escassez e da competição por postos de trabalho de qualquer tipo.”
Assim, segundo o estudo, uma das características mais perceptíveis do processo de precarização do trabalho no mundo contemporâneo é a multiplicidade de formas com que ele se reveste. Em outras palavras: “A característica é não possuir e nem estar submetida a uma forma exclusiva e isso indica que a chamada `flexibilidade´ visa criar condições variadas e facilmente adaptáveis, fluidas. Sua orientação busca retirar os obstáculos que limitem as diferentes formas de exploração sobre os trabalhadores”, afirma.
A tese “Prekärer - análise dos fundamentos da precarização do trabalho a partir da crítica da economia política” recebeu menção honrosa no Prêmio Capes Tese 2019 e teve parte publicada em agosto do ano passado sob a forma de livro, lançado pelo selo Coletivo Veredas, com o título de “Precarização: degradação do trabalho no capitalismo contemporâneo”. Outra parte da tese deve ser lançada ainda este ano também no formato de livro.
Mais informações
Programa de Pós-graduação em Serviço Social da UFPE
(81) 2126.8374
pssocialufpe@yahoo.com.br
Albani Barros
(82) 98812.0480 (para uso exclusivo da imprensa)
albanibrr@hotmail.com