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Excesso de trabalho é importante fator de risco para acidentes com motociclistas no Recife
Pesquisa alerta para o perigo da estresse e adoção do comportamento de risco na condução de motocicletas
Por Renata Reynaldo
A imprudência e o comportamento de risco adotados pelos motociclistas são fatores que contribuem para os altos índices de acidentes que essa modalidade de condutores sofre ou provoca no Recife. Mesmo que com bases meramente intuitivas, a grande maioria da população já chegou a essa conclusão. Mas, quais fatores mais contribuem para que motoboys, mototaxistas ou motoqueiros de passeio adotem essa conduta no trânsito? A dissertação de mestrado “Sobrecarga de trabalho e comportamentos de risco no trânsito de motociclistas acidentados”, de autoria de Washington José dos Santos e defendida no Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva da UFPE, tem a resposta: cansaço e bebida.
Os dados que embasam o estudo, orientado pela professora Albanita Gomes da Costa de Ceballos e realizado em equipe com Vanessa Maria da Silva Coêlho e Gustavo Barreto Santos, não deixam dúvidas. Quanto à adoção de comportamento de risco pelos motociclistas no momento do acidente, 20,2% referiram sono ou fadiga, 31,5% ingeriram bebida alcoólica, 40,3% não possuíam carteira de habilitação para motos, 16,9% não utilizavam capacete e 12,9 % referiram estar em excesso de velocidade quando sofreram o acidente. Segundo o autor, esse resultado sugere um alerta à população e aos empregadores quanto ao perigo da sobrecarga de trabalho e à adoção do comportamento de risco na condução da motocicleta, fatos que estão relacionados e contribuem diretamente com o número de acidentes e até perdas irreversíveis.
ENTREVISTAS | As respostas dos questionários respondidos por 104 indivíduos dentre os pacientes internados, entre 16 de maio e 15 de agosto de 2016, na Enfermaria de Traumato-Ortopedia do Hospital da Restauração (HR), localizado no 6° andar da unidade de saúde recifense, indicam associação estatisticamente significante entre as variáveis referentes à sobrecarga de trabalho e ao sono/fadiga no momento do acidente. Assertivas como “demanda excessiva de trabalho nos últimos três meses”, “sentiu dificuldades em executar as tarefas de trabalho devido a demanda excessiva nos últimos três meses”, “sentiu-se cansado durante o trabalho nos últimos três meses”, “sentiu-se pressionado a realizar tarefas de trabalho” e “falta de reconhecimento profissional por parte da população” figuram como as mais recorrentes no estudo.
A dissertação aponta, ainda, que a média de idade dos entrevistados foi de 31,44 anos, sendo o mais novo com 18 anos e o mais velho com 64; a maioria dos pesquisados era do sexo masculino (97,6%), adulto jovem de 18 a 39 anos (81,5%), com dois filhos ou menos (84,7%) e renda média mensal menor que dois salários mínimos (75,0%). Também registra o estudo que o uso de bebida alcoólica se mostrou associado ao desejo de mudar de profissão, enquanto que não estar cansado durante o trabalho apresentou associação com e o uso de capacete no dia do acidente. Para Washington, “a fadiga incessante, falta de perspectivas, frustração, ansiedade, depressão, medo, desmotivação com o trabalho e sobrecarga de tarefas são prejudiciais aos motociclistas, influenciando negativamente no comportamento dos mesmos e podendo levá-los a adotar comportamentos de risco no trânsito”.
HORÁRIOS | Os dados revelam também que o maior número de acidentes ocorreu entre 18h01 e 00h00 (45%), seguido do horário de 12h01 às 18h00 (27%); colisão foi o tipo de acidente mais prevalente nesta população com 72,6% e, destas, 63,3% foram com veículo automotor. “A sobrecarga de trabalho está diretamente ligada ao esgotamento emocional e à insatisfação na realização da atividade e à qualidade de vida no trabalho no que se refere à satisfação laboral e conflito trabalho-família”, interpreta o autor. Em síntese, Washington José dos Santos constatou que o perfil dos trabalhadores motociclistas internados no HR foi composto pelo sexo masculino, em idade produtiva, pardo, baixa escolaridade, com renda menor que dois salários, com vínculo empregatício informal e que não contribuem com a Previdência Social.
Na avaliação do autor, os acidentes motociclísticos fazem parte do cotidiano das cidades, daí a importância de se conhecer melhor essa realidade e o perfil dos acidentados para discutir ações que possam focar no público-alvo, respeitando as suas características, no sentido de prevenir os acidentes, reduzir os danos à vida e economizar recursos públicos dos atendimentos assistenciais e previdenciários. “Muitos dos acidentes de trânsito podem ser caracterizados como acidentes de trabalho (de trajeto ou típicos), pois ocorrem na locomoção casa-trabalho-casa ou nas atividades próprias da moto, sendo, parte deles, atribuída a alta demanda ou sobrecarga do trabalho”, alerta.
Índice de Pernambuco superou taxa do país
A título de embasar seu estudo a respeito da “Sobrecarga de trabalho e comportamentos de risco no trânsito de motociclistas acidentados”, o mestre em Saúde Coletiva pela UFPE Washington José dos Santos analisou dados históricos e o que a literatura científica já produziu sobre o problema. Da bibliografia consultada, o autor aponta que “as mortes de condutores e passageiros de motocicletas no Brasil aumentaram de 1.028 para 8.529 (mais de 700%) entre 1998 e 2008 e que as mortes por acidente de trânsito de motos no país contribuíram com 33,9% de mortes por acidentes em 2011, enquanto que, em 1996, o percentual era de apenas 4%”.
Segundo o Departamento Nacional de Trânsito (Denatram, 2015), em abril de 2010, no Estado de Pernambuco, existiam 512.642 motocicletas e, em maio de 2015, o número de motocicletas no Estado chegou a quase 1 milhão de unidades. E, como resultado correlato, com o crescimento no número de motos no Estado de Pernambuco, houve também um aumento de mortes por acidentes com tais veículos. Entre 1998 e 2009, ocorreram 3.110 óbitos de ocupantes por acidente de motocicleta em Recife, o que corresponde a 17,6% do total de mortos em acidentes de trânsito em Pernambuco.
Esses números impressionam, segundo a dissertação, pois em 11 anos, o crescimento da mortalidade em Pernambuco por acidente motociclístico (428%) chegou a ser maior do que o crescimento no Brasil, que foi de 327% entre os anos 2001 e 2010, mostrando a relevância do tema no Estado. “A sobrecarga de trabalho está diretamente ligada ao esgotamento emocional e à insatisfação na realização da atividade, enquanto que os comportamentos de risco ao dirigir estão relacionados com a gravidade dos acidentes de motociclistas”, atesta Washington Santos.
Segundo o autor, o estudo verificou uma associação negativa entre querer mudar de profissão e consumo de bebida alcoólica no dia do acidente, daí a conclusão de que a sobrecarga de trabalho está associada à adoção de comportamento de risco na condução da motocicleta para motociclistas trabalhadores, podendo repercutir no número de acidentes. “A demanda excessiva de trabalho, dificuldades em realizar tarefas de trabalho, sentir-se cansado durante o trabalho e sentir-se pressionado a realizar tarefas de trabalho estão associados com o desfecho sono/fadiga no momento do acidente”, reforça.
Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva
(81) 2126.3766
ppgsc.ccs@ufpe.br
Washington José dos Santos
washingtonfisio@gmail.com