Por Petra Pastl

A doutoranda em Bioquímica e Fisiologia da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) Tarciana Maria Pereira de Lima é a principal autora do artigo “Estimativa da idade cronológica e gênero através do canal mandibular em TCFC”, publicado no periódico de Biotecnologia “Cuadernos de Educación y Desarollo”, classificado como Qualis A4 pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes). O estudo apresenta os aspectos morfológicos e de localização, relacionados a idade e gênero, do canal mandibular. A pesquisa apresenta um avanço significativo na abordagem do tratamento cirúrgico bucomaxilofacial, com potencial para transformar o cenário clínico e contribuir para a saúde bucal de milhões de indivíduos em todo o mundo.

A pesquisa publicada teve como objetivo “avaliar as variações morfológicas e de localização em imagens de tomografia computadorizada de feixe cônico (TCFC)”, explica Tarciana Lima. Como resultado, foram descobertas variações na localização da tábua óssea cortical-vestibular e da cortical-basal conforme idade, sexo e o lado da mandíbula avaliado. Segundo ela, o conhecimento dessas variações é extremamente importante para prevenir lesões e iatrogenias – doença ou estado decorrente de complicações causadas por um tratamento ou erro médico –, proporcionando um planejamento cirúrgico adequado para o cirurgião-dentista, principalmente na área de cirurgia bucomaxilofacial.

Os pesquisadores basearam seu estudo na necessidade de se abordar os aspectos cirúrgicos com uma nova perspectiva e atualização de dados, proporcionando uma técnica cirúrgica segura, adequada e com características peculiares à faixa etária e gênero, principalmente nas cirurgias de urgência.

“Notamos, neste estudo, que a idade modifica a localização do canal mandibular ao nível dos segundos pré-molares, primeiros molares e segundos molares inferiores, corroborando com os aspectos fisiopatológicos do envelhecimento. Tais características precisam ser consideradas para um bom andamento cirúrgico devido à previsibilidade de localização dessas estruturas”, explicam os autores. “Além disso, uma atualização sobre a localização anatômica de diversas estruturas da face é necessária, tendo em vista manter disponível, na área bucomaxilofacial, referências para as abordagens de urgência e aquelas planejadas com maior refinamento, como nas cirurgias ortognáticas – para correção dos ossos dos maxilares”, complementam os pesquisadores.

No artigo, os autores concluem que, devido à extensão de perdas dentárias observadas, torna-se de grande importância o aprimoramento das políticas públicas na área de saúde bucal, principalmente com relação aos hábitos de higiene oral.

A publicação na revista “Cuadernos de Educación y Desarollo” é um marco significativo na carreira de doutoranda. “A revista está qualificada em A4, de acordo com a última avaliação do triênio da Capes, na área de Biotecnologia. É bem importante ter publicações como essa na área de inovação terapêutica em Odontologia, além de ampliar conhecimentos e vivência acadêmica/profissional”, afirmou Tarciana Lima.

SUPERAÇÃO PESSOAL - Tarciana Lima, que é atualmente capitão-tenente do Corpo de Saúde da Marinha, onde atua como enfermeira, formou-se em Enfermagem na UFPE em 2010. E, em 2015, concluiu o mestrado em Ciências Aplicadas a Produtos para Saúde na Universidade Federal Fluminense (UFF). Hoje, além de doutoranda e enfermeira, Tarciana é graduanda em Odontologia na UFPE, com previsão de conclusão neste ano. Também é professora universitária, responsável por ministrar aulas para o curso de Enfermagem na Faculdade Estácio de Sá.

Em meio a essas conquistas, Tarciana, que é portadora de sequelas da covid-19 que reduzem sua mobilidade, sendo acompanhada pelo Núcleo de Acessibilidade (Nace) da UFPE, expressa gratidão à Universidade, ao seu orientador durante a graduação, o professor Martinho Dinoá Medeiros Júnior, e ao curso de Odontologia. “Agradeço a oportunidade que a UFPE, o professor Martinho e a graduação de Odontologia têm me dado, promovendo inclusão e novas possibilidades”, diz Tarciana, enfatizando a importância da inclusão na pesquisa e na educação.

A pesquisa deste estudo significativo contou com a colaboração do professor Martinho Dinoá de Medeiros Júnior; da mestranda em Clínica Odontológica na UFPE Larissa Constantino França, e do pesquisador Marco Antonio Gomes Frazão, da Clínica de Radiologia DiagnoOdonto. O trabalho ilustra a importância da pesquisa interdisciplinar e da diversidade para abordar questões complexas de saúde.

Resumo

O canal mandibular está localizado no corpo da mandíbula, no sentido ântero-posterior, variando sua posição vestíbulo-lingual para cada indivíduo. Esta estrutura abriga o nervo alveolar inferior, importante componente a ser avaliado em procedimentos odontológicos, principalmente na área bucomaxilofacial. Diante do avanço tecnológico, muitas técnicas estão disponíveis para uma excelente avaliação do canal mandibular e minimização de danos ao mesmo, dentre elas está a tomografia computadorizada de feixe cônico (TCFC). Objetivos: Avaliar as variações etárias morfológicas e de localização em imagens de tomografia computadorizada de feixe cônico (TCFC). Métodos: O universo foi composto por 3.280 aquisições de TCFC de pacientes atendidos entre março e agosto de 2022 em um serviço privado de Radiologia Odontológica em Recife, Cuadernos de Educación Y Desarrollo, Portugal, v.15, n.6, p. 5592-5612, 2023 5593 Pernambuco. Após os critérios de inclusão e exclusão, foram selecionadas 87 aquisições de TCFC (55 de pacientes do sexo feminino e 35 de pacientes do sexo masculino). As imagens foram exportadas no formato Dicom e avaliadas por um examinador calibrado por meio do programa Radiant®. Resultados: Houve diferença significativa entre os valores médios das medidas D47/D37; D46/D36; D45/D35; D46/D36; D47/D46 (p=0,05). Foram encontradas diferenças nas localizações da cortical-vestibular e cortical-basal de acordo com a idade, sexo e o lado da mandíbula avaliado. O canal mandibular pode ser bem avaliado pelo uso da TCFC, sua anatomia varia de acordo com as características dos pacientes, como a idade. Conclusão: O conhecimento destas variações torna-se de extrema importância para prevenir injúrias, iatrogenias e obter um bom planejamento cirúrgico.

Mais informações
Tarciana Maria Pereira de Lima
tarciana.maria@ufpe.br