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Universidade, escola e natureza: a horta escolar como espaço de integração

 

O projeto de extensão Horta na Escola – hortas agroecológicas promovendo a educação alimentar e ambiental, coordenado pela Profa. Dra. Simone Rabelo da Cunha, em parceria com o Prof. Dr. André Maurício Melo Santos, traz à tona a importância de alinhar os saberes científicos aos saberes da terra. Vinculado ao curso de Ciências Biológicas do Centro Acadêmico de Vitória da Universidade Federal de Pernambuco (CAV/UFPE), este projeto tem como objetivo promover o intercâmbio entre o aprendizado teórico e a prática, criando oportunidades para que os estudantes do curso de licenciatura em Biologia possam exercer seus conhecimentos de forma interativa e proveitosa. 

 

A ação acontece em parceria com a Escola de Referência em Ensino Médio (EREM) Senador João Cleofas de Oliveira, onde se localiza a horta, e é fruto de uma linhagem de outras iniciativas elaboradas pela professora Simone, nas quais o gosto pelo plantar se manifesta como ramo principal. A agroecologia faz parte da rotina profissional dessa docente desde 2018, quando estabeleceu uma variedade de trabalhos na própria cidade de Vitória, envolvendo parcerias externas e um projeto de vivência de hortas elaborado no próprio campus do CAV, de onde surgiu a proposta, com o incentivo de um estudante extensionista e egresso do EREM, para o acolhimento da coordenadora e sua equipe na escola.

(Equipe do projeto, 2023)

Espaço da horta escolar / Caminhos da plantação

 

Assim, aproximando universidade e escola, entendida como um espaço de debate e um ambiente propício para tratar das questões importantes para a sociedade e seus cidadãos, é através do projeto que são despertadas as consciências alimentar e ecológica de acadêmicos e estudantes. Dessa maneira, são desenvolvidos os princípios de qualidade ambiental, qualidade alimentar e reconexão com a natureza, levando em conta tanto aspectos da flora quanto da fauna, mobilizados através de reflexões acerca da artificialização da produção de alimentos, que é vivenciada amplamente na contemporaneidade e gera inúmeras consequências para a saúde e para o meio ambiente. 

 

Como resposta a esse contexto, o contato com a natureza é amplamente incentivado. Por meio do apoio da gestão escolar do EREM, o projeto atua em alinhamento direto com as disciplinas eletivas do currículo da escola, sendo elas Hortas escolares, PANCs na cozinha (relacionada ao uso de plantas alimentícias não convencionais), Plantas medicinais e Água é vida (relacionada ao uso sustentável da água). Alternando entre o trabalho teórico dos conceitos, por meio de monitorias e lições realizadas pelos extensionistas em meio às aulas eletivas, e o trabalho prático na horta, da sua construção à manutenção, o projeto conta sempre com a participação dos escolares.

 

Em destaque nos trabalhos, está a realização de rodas de conversa e oficinas diversas, além de outras atividades pedagógicas, como a construção de composteiras. Essa gama de operações é uma estratégia positiva, tal qual demonstra o extensionista Pedro Simões, responsável pelo gerenciamento da rede social do projeto: “Na sala de aula, a gente tem muita teoria, não vemos o ensino de prática. Os alunos não têm um significado para estarem ali, você tem que motivá-los para que eles tenham interesse. Eles ficam muito presos na sala de aula, então quando veem a oportunidade de sair da sala e também aprender, ficam bem mais operativos. A aprendizagem fica mais significativa. Geralmente os professores mostram os exemplos por fotos, por fala, mas quando eles [os estudantes] veem isso na prática, a aprendizagem deles se torna mais significativa”.

 

Através das atividades, executadas principalmente na própria horta, os extensionistas e escolares aprendem a lidar com as possibilidades e limitações naturais, levando em conta os aspectos da região e das estações, bem com as características de cada hortaliça, entrando em contato com a ciclicidade da natureza e com os conceitos de custo ambiental e custo econômico. Como resume a professora Simone: “Quando a gente fala de natureza, de ambiente, as pessoas pensam ‘a natureza é lá, naquela área de preservação, e eu estou aqui, na minha casa, cercada de produtos congelados e ultraprocessados’. A gente tem que se ver como parte da natureza: eu faço parte da natureza, eu influencio o ambiente, eu determino que planta vou comer em cada época do ano – se vou comer todo dia, no mercado, alface e manga, ou se vou respeitar a ciclicidade da natureza. Se eu não tiver contato com essa ciclicidade, não vou entender que preciso respeitar isso no meu prato, na minha alimentação, no meu dia a dia”.

 

Recentemente, houve a primeira colheita e a realização da culminância: feira de conhecimentos que, ao fim de cada semestre letivo, é organizada pela escola e por meio da qual os estudantes podem, através de suas disciplinas, apresentar os resultados de seu aprendizado para os colegas. Para os escolares em contato com o projeto, a experiência foi catalisadora para guinar seu interesse pelos saberes adquiridos, tendo o retorno sido percebido pelos extensionistas, que notam a familiaridade crescente da comunidade escolar em relação à horta, o que desperta a naturalização de seu cuidado. 

 

(Equipe do projeto, 2023) 

Exemplos do cultivo

 

O projeto enfrenta desafios no que diz respeito ao gerenciamento e à expansão do espaço físico, e tem, a partir da estruturação deste, a meta de realizar a interdisciplinaridade entre a Biologia e as outras áreas escolares, tornando a horta um espaço amplo para todo o EREM. Além disso, como outros objetivos, para além da elaboração de resumos e relatos de experiências, os membros do projeto estão se mobilizando para organizar a produção de artigos sistematizados, bem como para produzir um acervo de materiais e sequências didáticos que façam referência a diferentes conteúdos relacionados aos temas da ação, sendo essas produções destinadas ao uso futuro pelos professores da escola. 

 

Para saber mais:

Instagram: @agroecologiaescola

 
Data da última modificação: 06/06/2023, 11:23