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Estudo revela que o estuário do Capibaribe está contaminado por compostos tóxicos sintéticos

Título da Monografia de Graduação

Poluentes orgânicos persistentes no sedimento do estuário do Capibaribe, Recife, Pernambuco

 

Resumo para Divulgação

Estuários são ambientes aquáticos onde ocorre a mistura da água doce do rio com a água salgada do mar. São extremamente importantes para reprodução, alimentação e abrigo de diversas espécies de animais. O estuário do rio Capibaribe está localizado no centro da cidade do Recife e tem uma grande importância para a população pernambucana, pois abriga o Porto do Recife e representa o principal cartão postal da cidade. Porém, o mesmo tem sido contaminado com o excesso de matéria orgânica lançada por esgotos domésticos e industriais não tratados ou tratados de forma inadequada. Apesar disso, os ribeirinhos locais costumam pescar e alimentar suas famílias com recursos do Capibaribe.

Um estudo feito no OrganoMAR em parceira com instituições de apoio à pesquisa (FACEPE, CNPq e INCT AmbTropic) analisou amostras de sedimento coletadas no estuário do Capibaribe para investigar a presença de contaminantes altamente prejudiciais à saúde dos organismos que vivem no local. São os chamados POPs (poluentes orgânicos persistentes), que são compostos orgânicos sintéticos que apresentam átomos de cloro em suas estruturas químicas. Os POPs incluem produtos que foram mundialmente utilizados em equipamentos elétricos e na indústria, como os PCBs. Também incluem alguns pesticidas para controle de pragas e epidemias, com destaque para os DDTs. Os POPs podem levar décadas para serem decompostos no ambiente. No estuário, tendem a acumular no sedimento e nos tecidos biológicos de plantas e animais, inclusive no homem que se alimenta desses organismos. Esses poluentes são altamente tóxicos, podendo causar sérios danos aos sistemas reprodutivo, nervoso, respiratório, imunológico e endócrino, além de gerar malformação de fetos e tumores cancerígenos. Devido a estes efeitos, o uso de POPs está proibido no Brasil e na maioria dos demais países, mas por serem persistentes ainda são detectados no ambiente.

Os resultados do estudo mostraram a presença de POPs no sedimento do estuário do Capibaribe. Foram detectados DDTs e PCBs com concentrações variando de 0,53 a 18,9 ng/g (média: 9,5 ng/g) e 1,39 a 54,8 ng/g (média: 22,0 ng/g), respectivamente. Praticamente todo o estuário apresenta níveis desses contaminantes acima daqueles considerados seguros, conforme a legislação ambiental brasileira (Resolução CONAMA 454/2012). Em virtude disso, o estuário do Capibaribe apresenta algum risco (provável ou ocasional) de causar efeitos adversos à biota local. Apenas uma estação apresentou risco improvável de gerar danos à saúde dos organismos, segundo critérios estabelecidos pelo Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA). Esses resultados enquadraram o estuário do Capibaribe entre os mais contaminados por POPs no Brasil. Apesar desse quadro preocupante, a situação é ainda pior, pois o estudo mostrou que a Resolução CONAMA 454/2012 está subestimando pela metade a contaminação por PCBs no estuário estudado, por considerar apenas 7 PCBs nos cálculos de contaminação dentre os 209 PCBs existentes. A mesma situação pode estar ocorrendo em outros estuários do Brasil. Por isso, sugere-se um estudo aprofundado no país sobre quais PCBs estão presentes no sedimento em maior frequência e concentração, bem como seus efeitos tóxicos, visando uma revisão da Resolução CONAMA 454/2012 para adequá-la à realidade brasileira. Esse esforço é importante, visto que estudos do Ministério do Meio Ambiente apontam que mais da metade dos PCBs utilizados no país ainda não foram descartados apropriadamente e eventualmente chegarão aos estuários e regiões costeiras nos próximos anos ou décadas. O estudo sugere ainda que o DDT pode ter sido ilegalmente utilizado na bacia hidrográfica do Capibaribe após o seu banimento em campanhas de saúde pública no país em 1998. Isto pode indicar falhas na fiscalização dos órgãos competentes no passado.

Atualmente, o Brasil (principalmente o estado de Pernambuco) está enfrentando problemas de saúde pública devido à crescente transmissão de vírus pelo mosquito Aedes aegypti com incidência de doenças pouco conhecidas. É importante que haja fiscalização nos processos empregados para controle desses vetores de forma a prevenir que o DDT ou outros pesticidas organoclorados, que estão proibidos, não sejam utilizados novamente. Esse panorama de contaminação gera preocupação com a conservação ambiental e com a saúde de populações ribeirinhas que utilizam recursos do Capibaribe em sua alimentação. Além de alertar os governantes sobre os problemas detectados, o estudo pode auxiliar na recuperação do estuário e de seus valores.

 

Contato para Informações

Jéssica Alessandra da Silva Moura

 

Apoio Financeiro

CNPq- ---------FACEPE

Data da última modificação: 18/05/2018, 11:57