Matemática do Coronavírus Matemática do Coronavírus

Voltar

Segundo Caso de COVID-19 em Agentes de Saúde: Relato de Dois Casos

Embora tenha sido mostrado que uma infecção primária possa prevenir a reinfecção do novo coronavírus em animais, ainda há lacunas no conhecimento sobre a resposta imunológica dada por humanos à doença. Casos de reinfecção têm sido raros até agora, porém eles foram relatados e estão sendo investigados por cientistas de várias partes do mundo, inclusive no Brasil - e, mais especificamente, em Pernambuco.

Título Original: Second Episode of COVID-19 in Health Professionals: Report of Two Cases

Título Traduzido: Segundo Caso de COVID-19 em Agentes de Saúde: Relato de Dois Casos

Autores: Carlos Alexandre Antunes de Brito1,2, Petrus Moura Andrade Lima3 , Marina Coelho Moraes de Brito2,4, Daniela Barbosa de Oliveira2

Projeto Covid-19 e a Matemática das Epidemias - Fazendo a Ponte entre Ciência e Sociedade

Tradução: Danillo Barros de Souza e Jonatas Teodomiro

Síntese: Camila Sousa e Júlia Lyra

Coordenação: Felipe Wergete Cruz

 

1 Departamento de Medicina Clínica, Centro de Ciências da Saúde, Universidade Federal de Pernambuco, Recife, Pernambuco, Brasil 

2 Departamento de Imunologia, Instituto Autoimune de Pesquisa, Recife, Pernambuco, Brasil 

3 Departamento de Cirurgia Digestiva, Instituto de Medicina Integral Professor Fernando Figueira (IMIP), Recife, Pernambuco, Brasil 

4 Centro de Ciências da Saúde, Universidade Federal de Pernambuco, Recife, Pernambuco, Brasil

 

 

Introdução 

 

Embora tenha sido mostrado que uma infecção primária possa prevenir a reinfecção do novo coronavírus em animais, ainda há lacunas no conhecimento sobre a resposta imunológica dada por humanos à doença. Casos de reinfecção têm sido raros até agora, porém eles foram relatados e estão sendo investigados por cientistas de várias partes do mundo, inclusive no Brasil - e, mais especificamente, em Pernambuco.

Em face à indeterminação da frequência, relevância e mesmo prova desses eventos, expandir os estudos na área e descobrir se, de fato, o risco de reinfecção é uma realidade torna-se crucial para definir as estratégias de isolamento e desenvolver vacinas. Foi o que concluiu uma pesquisa coordenada pelo professor de medicina da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) Carlos Brito, recentemente publicada na revista científica International Medical Case Reports Journal.

 

Destrinchando

 

O estudo analisa os casos de dois profissionais de saúde que atuaram na linha de frente do combate à pandemia no Recife e tiveram dois episódios de Covid-19 com resultado positivo no teste RT-PCR (cuja confirmação é obtida detectando o RNA da SARS-CoV-2 na amostra analisada), o que sugere a possibilidade de reinfecção.

O primeiro caso foi um médico clínico de 40 anos, sem comorbidades, que apresentou febre e sintomas respiratórios em 10 de abril deste ano, com teste RT-PCR positivo. Em um intervalo de cinco dias, o homem apresentou melhora total dos sintomas. Após 44 dias, o paciente apresentou o mesmo resultado e os mesmos sintomas que no episódio anterior, associado com anosmia (perda de olfato) e disgeusia (perda de paladar).

O resultado do novo teste RT-PCR foi feito dois dias depois, novamente com resultado positivo. O homem havia trabalhado como médico num serviço de atendimento móvel de emergência e em um hospital de referência para pacientes infectados pelo novo coronavírus.

Por outro lado, o segundo caso aconteceu com uma mulher de 44 anos, também médica clínica, que trabalhou em um centro de referência em Covid-19 e teve o começo dos sintomas em 30 de abril. O teste RT-PCR da paciente foi positivo, com melhora dos sintomas em seis dias.

Em 24 de maio, porém, ela apresentou as mesmas ocorrências do mês anterior: febre, tosse e dor de garganta acompanhada de dor de cabeça, astenia (fadiga), mialgia (dor muscular) e diarreia. No novo episódio, anosmia e disgeusia também foram reportados e um novo teste de RT-PCR foi feito, obtendo resultado positivo. 

 

Notas explicativas + gráficos

 

No caso 1, testes sorológicos de IgM e IgG (o exame sorológico tem o objetivo de identificar as moléculas Imunoglobulina M e Imunoglobulina G, anticorpos que combatem o vírus) foram feitos quatro semanas depois, e os resultados foram negativos. Em 20 de maio de 2020, o paciente começou a apresentar os mesmos sintomas apresentados quarenta e sete dias antes, mas agora com anosmia e disgeusia. 

Os resultados do novo teste RT-PCR feito dois dias depois foram positivos para SARS-CoV-2. Os sintomas regrediram depois de cinco dias. Seis semanas depois da segunda onda de sintomas, um teste RT-PCR resultou negativo, e a sorologia foi positiva para IgG e IgM (veja a Tabela 1 e a Figura 1 abaixo).

No caso da paciente 2, após 14 dias ela voltou às atividades regulares. Em 24 de maio de 2020, a paciente teve início de febre, tosse e dor de garganta acompanhadas de dor de cabeça, astenia, mialgia e diarreia. Nesse novo episódio, anosmia e disgeusia também estavam presentes. Os sintomas respiratórios da paciente melhoraram depois de sete dias, mas a anosmia e disgeusia persistiram por mais de 60 dias e ainda não haviam melhorado quando o caso foi relatado. Um novo teste RT-PCR foi feito, com resultados positivos. 

Testes sorológicos para IgM e IgM foram feitos cinco dias após a segunda onda de sintomas para analisar se haviam anticorpos produzidos anteriormente em resposta a primeira infecção. Um novo teste RT-PCR foi feito seis semanas depois, com resultados negativos, e os testes sorológicos foram positivos para IgG (Tabela 1 e a Figura 1 abaixo).

Nos dois episódios dos pacientes relatados, os testes RT-PCR não foram feitos além das recomendações do protocolo no Brasil, segundo o qual os profissionais de saúde devem se isolar por um período de 14 dias após a recuperação clínica antes de retornar às atividades.  

Entretanto, seis semanas depois da segunda onda, o RT-PCR deu negativo, e a sorologia foi positiva para IgG, e o IgM ainda era positivo, indicando uma infecção recente. O segundo paciente teve testes positivos para IgG nos primeiros dias da segunda onda, indicando que os anticorpos foram produzidos por uma infecção anterior.

 

Para ler o artigo na íntegra por favor clique aqui. 

Data da última modificação: 03/11/2020, 18:01