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Prospecções internacionais revelam variações regionais na composição química da água do mar

Um dos coautores e iniciador da pesquisa é o professor Marius N. Müller, do Departamento de Oceanografia da UFPE

Por Renata Reynaldo

Amplamente conhecidas como estáveis em todos os oceanos, as composições dos elementos químicos presentes na água do mar – as razões entre Magnésio e Cálcio (Mg: Ca) e Estrôncio e Cálcio (Sr: Ca) –, se tornaram águas passadas. A partir de novas prospecções que resultaram em mais de 1.100 amostras coletadas, durante três anos, em 79 cruzeiros e expedições de pesquisa em todo o mundo, e a fusão desses dados com informações já publicadas, um grupo de cientistas descobriu que os modernos oceanos apresentam uma significativa variabilidade desses elementos em diferentes ambientes. 

Essa quebra de paradigma, que abala um consenso de, pelo menos, um século, está documentada no recém-publicado artigo cientifico “Global variability in seawater Mg:Ca and Sr:Ca ratios in the modern ocean”. De autoria principal do pesquisador espanhol Mario Lebrato, da Universidade de Kiel, na Alemanha, e tendo como um dos coautores e iniciador da pesquisa o professor Marius N. Müller, do Departamento de Oceanografia da UFPE, o estudo leva à necessidade de revisão das pesquisas paleoceanográficas. “Muito provavelmente esse fenômeno se aplica a todas as análises de fósseis marinhos no que se refere aos elementos Ca, Sr e Mg, daí a importância de se revisar essas pesquisas, incluindo uma maior variabilidade nas razões elementares”, afirma Müller.

IMPACTO | Segundo o pesquisador teuto-brasileiro, esse novo parâmetro das águas marinhas também pode sanar recorrentes problemas de inconsistências em estudos anteriores como, por exemplo, a dificuldade de se definir as condições paleo de diferentes resíduos fósseis, que agora podem ser superadas ao se considerar diferenças taxonômicas, ecossistemas e processos abióticos para superar o efeito ambiental regional. Müller defende que “não se pode minimizar o impacto que as mudanças seculares derivadas dos resíduos (táxons) fósseis, a biomineralização, juntamente com os nichos ecológicos variados e de diversos ecossistemas, provocam na química da água do mar como um todo”. 

O estudo também elenca algumas razões, até então desconsideradas, para as mudanças regionais da composição da água marinha e, sobretudo, questiona o princípio de proporções constantes dos elementos na água do mar (ou princípio de Marcet). Alguns desses fatores que provocam as variações são impulsionados por mudanças na produção global da crosta oceânica e pelas misturas de taxa de fluxos hidrotérmicos e do tempo médio de residência no oceano (conceito MORs), além da mistura com salmouras e rios. Ainda segundo os pesquisadores, a composição elementar moderna da água do mar também é governada por processos biogeoquímicos, trocas químicas e interações com os principais compartimentos do sistema terrestre e ciclos oceânicos.

Mais informações
Departamento de Oceanografia da UFPE
(81) 2126.8225

marilia.cerqueira@ufpe.br

Professor Marius Müller
mariusnmuller@gmail.com

Data da última modificação: 22/09/2020, 20:13