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Projeto mapeia práticas da medicina tradicional do povo indígena Xukuru

Coordenação do projeto é do professor René Duarte Martins, do Núcleo de Saúde Coletiva do Centro Acadêmico de Vitória (CAV) da UFPE

O projeto “Memorial de Medicina Tradicional Lica Xukuru: Valorização dos Saberes e Práticas em Saúde Indígena” realizou três oficinas sobre os saberes tradicionais do povo Xukuru para equipes multidisciplinares de saúde indígena que atendem as regiões de Serra, Ribeira e Agreste, na Serra do Ororubá, em Pesqueira, no Agreste de Pernambuco Os encontros realizados no território dessa etnia ocorreram de 23 a 26 de janeiro e tiveram como objetivo agrupar elementos do cuidado tradicional para compor o ponto de força, cultura e pesquisa do Memorial de Medicina Tradicional Lica Xukuru.

Iniciada em julho de 2022, a iniciativa tem o objetivo de resgatar o reconhecimento tradicional Xukuru. Em particular, o que trata da trajetória e dos conhecimentos difundidos pela guerreira, pajé e manejadora de práticas de cura tradicionais Lica Xukuru, falecida em agosto de 2020. “O projeto tem realizado o levantamento das práticas de cuidado e cura tradicional do povo Xukuru e como acontece a relação entre essas práticas e os serviços de atenção à saúde indígena”, explica o professor René Duarte Martins, do Núcleo de Saúde Coletiva do Centro Acadêmico de Vitória (CAV) da UFPE e coordenador do projeto.

Fotos: Divulgação

Encontros discutiram os saberes tradicionais

No encontro ocorrido no início deste ano, foi realizado o diálogo junto a profissionais da Equipe Multidisciplinar de Saúde Indígena (EMSI) para compreender como é feito o processo de intermedicalidade, prática que associa a medicina tradicional ao uso de medicações distribuídas pelos serviços oficiais de saúde. Ao longo de quatro dias, os pesquisadores participaram de reuniões, rodas de conversa e entrevistas com a equipe de saúde, lideranças indígenas e detentores de conhecimento tradicional das três regiões da terra indígena Xukuru do Ororubá. 

Essa coleta de campo contou com a participação dos pesquisadores Ana Lúcia Andrade (CAV/UFPE) e Paulo Leda e Mônica Dias, da Fiocruz/RJ; e dos indígenas Edinaldo Rodrigues e Wilke Melo, do Distrito Sanitário Especial Indígena (DSEI/PE). Em encontro anterior, realizado em setembro de 2022, os pesquisadores ouviram sábios do território Xukuru que usam plantas medicinais para realizar cuidados em saúde individual ou coletiva.

Segundo René, o trabalho tem identificado plantas medicinais coletadas no território, realizado experimentos de toxicidade, sistematizado as informações coletadas nas rodas de conversa e discutido sobre o formato do memorial Lica Xukuru. “Dados preliminares já revelaram o uso de plantas medicinais de maneira transversal às diversas práticas de cura, com importante participação de plantas exóticas, externas à biodiversidade brasileira, fato que reflete a violência do processo de aculturação sofrido”, analisa o pesquisador. O projeto envolve ainda a organização de dados para a produção de cartilha destinada ao serviço de saúde indígena e análise das rodas de conversa.

O projeto “Memorial de Medicina Tradicional Lica Xukuru: Valorização dos Saberes e Práticas em Saúde Indígena” é realizado a partir da integração de pesquisadores do Centro Acadêmico de Vitória (CAV) e do Departamento de Antibióticos da UFPE, dos institutos Aggeu Magalhães (Fiocruz/PE) e Farmanguinhos (Fiocruz/RJ) e da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (ENSP/RJ). A iniciativa tem financiamento da Fundação de Amparo à Ciência e Tecnologia do Estado de Pernambuco (Facepe) por meio do Edital 29/2021 – Estudos Étnico-Raciais Solano Trindade. 

Data da última modificação: 23/02/2023, 12:04