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Doutorando da UFPE desenvolve aplicativo voltado para a saúde mental de pessoas isoladas em locais remotos
Gabriel Henrique Albuquerque Lins é vinculado ao Programa da Rede Nordeste de Biotecnologia (Renorbio/UFPE)
Doutorando da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) realiza estudo na Antártica para o desenvolvimento de um sistema de saúde digital. Intitulado “Telessaúde Antártica: Superando o isolamento pela saúde mental” (em tradução livre), o trabalho é focado na redução da morbimortalidade de pacientes com doenças de alta relevância epidemiológica, a exemplo do infarto, e integra o doutorado de Gabriel Henrique Albuquerque Lins pelo Programa da Rede Nordeste de Biotecnologia (Renorbio/UFPE). “Meu trabalho como pesquisador é desenvolver um sistema completo, hardware e software, com foco na descentralização da saúde utilizando a Antártica como o ambiente de teste ideal, já que lá temos todos os tipos de limitações e dificuldades possíveis”, explica. O trabalho foi apresentado recentemente por Gabriel Lins no maior congresso do mundo em ciências polares, realizado este ano no Chile.
Esta é a primeira versão do aplicativo, que começa pela área da psiquiatria. Combinando suporte on-line com ferramentas offline, o sistema visa a manutenção e monitoramento do bem-estar do usuário a partir de uma série de funcionalidades baseadas em questionários e testes já validados. Também são usados os sensores dos celulares dos usuários para extrair informações como nível de atividade física e tempo de sono.
“Na próxima versão, focaremos em cardiologia, tema específico do meu doutorado, usando também sensores conectados por bluetooth para monitorar biomarcadores importantes para a saúde cardiovascular. Após essa etapa, acredito que iremos para endócrino”, explica Gabriel Lins, biomédico neuroengenheiro integrante do SaúdeAntar-IA, grupo focado no desenvolvimento de metodologias e tecnologias para a manutenção e o monitoramento da saúde integral em ambientes ICE (Isolados, Confinados e Extremos). De acordo com estudos que serviram de base para Gabriel, cerca de 70% dos pesquisadores que atuam na Antártica sofrem de depressão e/ou ansiedade.
Conforme explica Gabriel Lins, o aplicativo é dividido em três grandes áreas. Uma delas é um chat que funciona de duas formas: offline, como um diário guiado por um chatbot para acompanhar o usuário em seus pensamentos; e on-line, com um programa de inteligência artificial (LLM, ou Large Language Model) que auxilia em questões de saúde. “A segunda parte é um ‘prontuário eletrônico’ que, apesar de não ter essa aparência, possui o mesmo fim, que é acompanhar o estado mental do usuário a partir dos questionários respondidos por ele em tempos padronizados”, explica o pesquisador. A terceira área do sistema de saúde digital consistirá em um teleatendimento feito por uma equipe de voluntários da Universidade Federal Fluminense (UFF) e do Instituto de Pesquisas Heloísa Marinho (IPHEM), que ficarão disponíveis em horários que poderão ser agendados pelo usuário.
Atualmente, apenas membros do Programa Antártico Brasileiro (Proantar) têm acesso ao aplicativo, que se encontra na fase de desenvolvimento e aprimoramento. A expectativa é que o sistema esteja pronto para ser testado em um ambiente de área remota, com todas as suas intempéries, já no próximo ano. Inclusive, por pessoas de outros locais. “Recebemos ofertas tanto nacionais como internacionais para expandir o sistema para os usuários de fora da Antártica”, adianta Gabriel Lins.
CONFERÊNCIA NO CHILE - A pesquisa de Gabriel Henrique Albuquerque Lins foi apresentada na seção “Human Biology & Medicine: Health, wellbeing and living in Antarctica” da XI SCAR – Open Science Conference & Biennial Meetings, ocorrida em agosto, no Chile. “Durante a apresentação oral, falei sobre o trabalho que venho desempenhando na Antártica, desde fornecimento de energia [em parceria com a Baterias Moura] até a negociação com provedores de satélites para a transmissão de dados com o foco de desenvolver tecnologias digitais para levar o SUS para a Antártica”, explica Gabriel Lins, único brasileiro a se apresentar na seção “Operational Medicine” deste ano do evento. A Conferência de Ciência Aberta (SCAR) é realizada a cada dois anos. A edição 2024 do evento, ocorrida no Chile, reuniu mais de 1,3 mil participantes dos cinco continentes em torno de discussões sobre os desafios e avanços envolvendo o continente antártico.