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Agenda UFPE com o advogado e professor Silvio Almeida destaca universidades no combate ao racismo

Ciclo de debates traz propostas relativas à educação, política, economia, cultura e meio ambiente no contexto local, regional, nacional e global

“Toda forma de combate ao racismo é um combate contra as formas de reprodução do racismo. Esse deve ser o horizonte”, afirmou o advogado, filósofo e professor universitário Silvio Almeida na sétima edição do “Agenda UFPE – Educação, Sustentabilidade e Desenvolvimento”, realizada na tarde da sexta-feira (26). A apresentação, intitulada “As universidades no combate ao racismo”, pode ser conferida no YouTube da UFPE. O programa Agenda UFPE é um ciclo de debates sobre propostas relativas à educação, política, economia, cultura e meio ambiente no contexto local, regional, nacional e global. A conversa contou com a mediação do reitor Alfredo Gomes.

Para Almeida, a universidade deve “irritar as estruturas e provocar questionamentos sobre o que dá existência ao racismo”. Autor de um livro sobre o tema, ele explica que o racismo estrutural são os condicionamentos que tornam o racismo possível. Nesse contexto, o racismo institucional marca presença porque as instituições são fruto dessa relação estrutural. “As universidades são instituições e fazem parte de um mundo estruturado por relações atravessadas pelo racismo”, destaca o professor, explicando que o racismo estrutural não se manifesta apenas em atos deliberados. “É um processo de constituição da subjetividade, dos sentimentos das pessoas.”

De acordo com o professor, a luta antirracista, então, consiste em segurar a mão de quem bate. “É uma ação política no sentido de reorganizar a própria ação no mundo e não permitir que certas coisas sejam ditas ou feitas”, afirma. “O racismo afeta negros e brancos, mesmo os que não querem falar sobre o assunto, porque estão neste mundo”, diz Almeida, ressaltando que se trata também de uma forma de naturalização da desigualdade no capitalismo. No entanto, ele defende que não se pode usar o fato de o racismo ser estrutural como justificativa para não combater o racismo institucional. “As universidades não podem abdicar do combate ao racismo”, frisa.

Além das políticas de ação afirmativa e de proteção das pessoas, Almeida afirma que a universidade deve se ater ao tema levando em conta o tripé ensino, pesquisa e extensão. “Como a universidade contribui para a reprodução de um imaginário social afinado com o racismo?”, questiona. Para ele, não se trata de deixar de ensinar determinados temas ou autores, mas ensiná-los de maneira crítica. “Ler com perspectiva crítica leva a entender como naturalizamos certos imaginários”, ressalta. Ele considera o racismo um verdadeiro ódio ao povo brasileiro, que deve, ao contrário, ser valorizado por meio de uma cultura antirracista. “Não existe saída para o Brasil a não ser tratar da questão racial.”

Almeida lembra que a universidade pode estar no mundo com uma posição de resistência, lutando por uma nova realidade e pela vida das pessoas. “Fazer a luta antirracista é lutar pela constituição de um novo sujeito, de uma nova subjetividade”, afirma. Ele explica que um mundo sem raça é um mundo sem racismo e que a humanidade não está dada, mas é uma construção, que pode ser reinventada tirando-se a raça dessa equação. O professor lembra que o racismo se mostra no espanto causado pela presença de pessoas negras em determinados espaços e isso precisa ser combatido. “A universidade sempre será fraca enquanto houver racismo.”

No debate que se seguiu à apresentação, a professora Conceição Reis, coordenadora do Núcleo de Políticas de Educação das Relações Étnico-Raciais (Núcleo Erer), disse que a UFPE tem tentado dar passos em direção às ações afirmativas. Também destacou a recente instalação de comissões para tratar do assunto e “mexer com essa estrutura para barrar esse racismo”. O vice-reitor Moacyr Araújo destacou a pertinência do tema e o reitor Alfredo Gomes afirmou que ficou muito honrado com a palestra do professor Silvio Almeida. “Temos feito um esforço muito grande e somos caminhantes no processo de vencer essas práticas”, disse.

Data da última modificação: 30/03/2021, 16:24