Notícias Notícias

Voltar

Vice-reitor Moacyr Araújo conta como pesquisadores do projeto Mephysto trabalham para o Programa Antártico Brasileiro

UFPE e UFBA participam pela segunda vez de uma missão do Proantar

Por Eugênia Bezerra

Roupas apropriadas para temperaturas abaixo de zero, condições climáticas que exigem muita perícia em alto-mar e diversos equipamentos para pesquisas científicas na água e no ar. Esses são alguns dos elementos que fazem parte da rotina dos pesquisadores brasileiros envolvidos no Programa Antártico Brasileiro (Proantar). Entre os integrantes do grupo na 41ª Operação Antártica está o vice-reitor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Moacyr Araújo, que é professor do Departamento de Oceanografia. Ele coordena o projeto de pesquisa Mephysto, junto com o professor Jailson Bittencourt de Andrade (vice), da Universidade Federal da Bahia (UFBA).

As duas universidades públicas do Nordeste do Brasil participam pela segunda vez de uma missão do Proantar, que tem gestão científica a cargo do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI) e completa 40 anos em 2022. “Isso é motivo de muito orgulho para toda a equipe, daqui da UFPE e da UFBA. Estamos fazendo uma parte da história do Programa Antártico Brasileiro. Para nós, é um orgulho estar participando disso e participando tão bem. As equipes estão extremamente bem treinadas, suportando as intempéries, o frio intenso. Às vezes, ficamos acordados por 24 horas, 30 horas direto, fazendo campanha e todo mundo lá trabalhando. É muito inspirador ver essa dedicação toda”, afirma Moacyr Araújo.

Fotos: Acervo Mephysto

Moacyr Araújo integrou grupo na 41ª Operação Antártica

Sendo a Terra um grande sistema em que mudanças ocorridas em um local podem afetar a vida em outros lugares pela ação de fenômenos naturais como as correntes de ar e as marítimas, a produção de conhecimento sobre o que acontece na Antártica é importante para o Brasil (e não apenas para a Região Sul). “A Antártica influencia bastante no clima do Brasil e no do Hemisfério Sul. Então, compreender o que está acontecendo na Antártica e em toda a ligação dela com o Atlântico Sul é fundamental para a gente entender a variabilidade do nosso clima. Isso tudo tem consequências diretas para a sociedade brasileira”, explica ele.

Com o projeto “Biocomplexidade e Interações Físico-químico-biológicas em Múltiplas Escalas no Atlântico Sudoeste”, o Mephysto é um dos 16 grupos selecionados pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), via edital lançado em 2018, para integrar a 41ª Operação Antártica. A equipe nordestina é multidisciplinar, com pesquisadores da Oceanografia, da Biologia, da Física e da Química e uma jornalista científica.

Material coletado na expedição será analisado ao final da expedição

MISSÃO - Reunindo cerca de 130 pesquisadores, sendo 11 integrantes do Mephysto, a missão científica foi iniciada em outubro de 2022 e terminará em abril de 2023. Parte deste período corresponde ao verão austral, que vai de dezembro a março, aproximadamente, mas isso não quer dizer que os pesquisadores navegam por mares tranquilos.

Ao longo da expedição, o navio precisa passar pelo Estreito de Drake, uma região entre a Península Antártica e o extremo sul da América do Sul conhecida pelo clima agitado, onde já aconteceram muitos naufrágios no passado. O ponto de encontro entre a Corrente do Brasil – que é quente e “desce” pela costa do país em direção ao sul – com a Corrente das Malvinas – que é fria e “sobe” da Argentina em direção ao norte – gera uma das áreas mais biodinâmicas do planeta Terra. A Confluência Brasil-Malvinas se forma nas imediações do Uruguai, após o Rio da Prata.

O professor detalha: “Nessa região de confluência se formam muitos vórtices. Ela tem muitos meandros, muitas estruturas de mesoescala, como a gente chama. Dentro dessas estruturas, o comportamento de toda a biota e do ciclo biogeoquímico é totalmente diferente do que tem fora delas. Normalmente, dentro desses vórtices existe uma biocomplexidade maior. Ou seja, observamos que a quantidade de fitoplâncton e de zooplâncton é bem maior em termos de biodiversidade dentro deles do que nas águas oceânicas que circundam essas estruturas”.

Os vórtices podem ser definidos, de maneira simplificada, como redemoinhos em alto-mar. Estudar a biocomplexidade existente dentro dessas estruturas auxilia na compreensão de como se dá a chegada de componentes biológicos à costa do Brasil por meio das correntes marítimas. Mas não para por aí.

“Um dos objetivos do projeto é entender porque existe essa diferença de composição da biodiversidade dentro dos vórtices, que também implica uma diferença na transferência de calor e de dióxido de carbono (CO2), que é um gás de efeito estufa, entre o oceano e atmosfera”, continua Moacyr Araújo, lembrando que tudo isso tem um grande impacto na dinâmica do clima brasileiro.

A parte atmosférica da pesquisa é realizada no primeiro trecho do trajeto percorrido pelos pesquisadores – ou na primeira “pernada” como se costuma dizer quando se trata de viagens marítimas. É nesta fase que o Navio Polar Almirante Maximiano desatraca do Arsenal de Marinha do Rio de Janeiro e vai até Punta Arenas, no Chile, com uma parte do grupo fazendo as medições. 

Na cidade portuária chilena ocorre um revezamento. Um avião da Força Aérea Brasileira (FAB) pousa no local para deixar alguns pesquisadores que seguem viagem no navio rumo à Estação Antártica Comandante Ferraz e buscar os outros que voltam para o Rio de Janeiro.

Navio Polar Almirante Maximiano abriga os pesquisadores

Moacyr Araújo cumpriu a segunda “pernada” da viagem com mais três integrantes do Mephysto. “É nesta etapa em que a gente atravessa o Estreito de Drake e vai até a Antártica com a perspectiva de trabalhar na Estação e no Estreito de Bransfield. Quando o Drake está muito pesado ou ‘acordado’, como a gente diz, não temos muitas chances de fazer as análises. Desta vez, conseguimos fazer três coletas na ida e cinco na volta para analisar a presença de microplásticos na água”, comenta o professor.

Essa medição é significativa porque a Corrente Circumpolar Antártica transporta material do Oceano Pacífico para o Atlântico – e vice-versa – ao girar em torno do continente Antártico. A observação preliminar da água coletada indica que há muito plástico acumulado na região, a quantidade pode ser comparada ao que é encontrado nas regiões costeiras mais sujeitas à ação antrópica.

Outra parte do trabalho é feita na própria estação e no Estreito de Bransfield. “Toda a parte sobre a troca de nutrientes, o plâncton, as massas d’água e a presença de plásticos e microplásticos nós estudamos lá na Antártica. No próprio estreito, nós também fazemos medições e coletas de água específicas para as análises sobre microplástico”, destaca.

Todo o material recolhido pela equipe é preservado em freezers muito potentes no próprio navio até que a embarcação regresse da Antártida, encerrando a 41ª Operação. Isso deve ocorrer em abril de 2023. “Com isso, a gente vai transportar esse material para análise nos laboratórios, uma parte no Recife (na UFPE), outra em Salvador (na UFBA) e outra no Rio de Janeiro. A partir daí, vamos produzir artigos científicos para divulgação dos resultados”, adianta Moacyr de Araújo.

O calendário de realização dos projetos selecionados para a 41ª Operação precisou ser alterado pelo CNPq por causa da pandemia de covid-19 – com isso, as equipes têm até 2024 para apresentar os resultados das pesquisas iniciadas com as viagens realizadas em 2022. Atualmente, o Mephysto trabalha nas análises e na escrita dos artigos científicos relacionadas ao material coletado durante 40ª Operação, que ocorreu em 2019 e também teve seu cronograma estendido por causa da pandemia.

INSTITUIÇÕES PARCEIRAS - Este trabalho realizado pelo Mephysto integra o projeto europeu AtlantECO, que também contempla investigações sobre o transporte de plástico entre os oceanos Índico e Atlântico, ao Sul da África.

O projeto Mephysto tem parcerias com universidades brasileiras e de outros países: Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Universidade Federal do Rio Grande (FURG), Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), Senai/Cimatec (BA), Stazione Zoologica Anton Dohrn (Itália), Helmholtz-Zentrum Hereon (Alemanha), The University Tokyo (Japão), Old Dominion University (EUA), North Carolina State University (EUA) e Rede CLIMA.

Mais informações
Perfil do projeto Mephysto no Instagram
@mephysto_proantar 

Data da última modificação: 19/12/2022, 16:50